domingo, 15 de novembro de 2009

Quase um mês sem postar e a pergunta permanece: desenvolvimento?

Uma leitura particular de O Mito do Desenvolvimento Econômico, de Celso Furtado.
Diariamente ao lermos os jornais nos deparamos constantemente com a tal expressão: “Desenvolvimento Econômico”. Tanto a mídia impressa como a eletrônica, acabaram por incluir em nosso vocabulário tal expressão que atualmente mais parece um jargão popular, mas o que é de fato essa expressão que serve tanto de propaganda para o governo federal, como de tema de discussão entre as mais variadas classes de profissionais e a população em geral? Será que realmente o Brasil segue o rumo ao pleno Desenvolvimento Econômico?

Segundo o Dicionário Houaiss, o significado da palavra “Desenvolvimento” é: aumento da capacidade ou das possibilidades de algo; crescimento, progresso, etc. Sob a visão econômica encontramos também a seguinte definição: crescimento econômico, social e político de um país, região, comunidade etc. Já a palavra “Mito” encontrada no mesmo dicionário significa: relato fantástico de tradição oral, sob forma simbólica, lenda, fábula, mitologia. E agora em qual dessas definições estamos apoiando nossas idéias para seguirmos rumo ao nosso idealizado progresso?
É valido lembrar que na prática modifica-se “um pouco” o significado de tal palavra. Atualmente convencionou-se chamar de desenvolvimento econômico, a capacidade de buscar o padrão de consumo dos países desenvolvidos (ricos), ou seja, a idéia que tal processo trará aos povos em
desenvolvimentos (emergentes ou pobres) a possibilidade de que algum dia, os mesmos desfrutarão dos modos de vida dos atuais povos ricos, porém isso será uma realidade?
Nos dias atuais este processo rumo ao progresso com certeza é reduzido a categoria de mito, pois basta pensarmos nos reais propósitos da louvação dada a este desenvolvimento.

A idéia de desenvolvimento econômico passou a ser a seguida e reproduzida como uma meta após a evolução do capitalismo globalizado juntamente com a invasão do mercado financeiro nos sistemas econômicos nacionais e, conseqüentemente, com o aumento do protecionismo a certos
setores econômicos. Os níveis de consumo que prevalecem atualmente nos paises do norte
não têm cabimento dentro das possibilidades evolutivas reais desse sistema. O guia geral do processo de desenvolvimento é a busca constante pela elevação do nível de consumo das populações, porém os efeitos diretos e indiretos gerados por tal elevação, como a poluição e a pressão sobre os recursos naturais, provocariam um colapso na economia mundial.
Além disso, o modelo utilizado para projetar a economia mundial chega a ser irreal, uma vez que não leva em conta os efeitos de longo prazo. A estrutura deste modelo é a adotada pelos países que lideram a economia mundial, sendo assim, obter um padrão de vida moderno passou a significar acumulação de capital e facilidade de acesso aos bens finais.
O produto desta crescente acumulação e intensificação do comercio internacional é o aumento exponencial da produtividade, esta que por sua vez aumenta o fluxo de excedentes, que acabam por serem utilizados para maior acumulação geográfica de capital e capacidade de consumo.
Através das reformas industriais ocorridas no sistema capitalista no último quarto de século as empresas norte-americanas eram as que possuíam melhores condições para aproveitar as novas oportunidades criadas. Com isso as relações com a os paises centrais (países do norte) se tornaram assimétricas ao longo dos tempos e a expansão do sistema, iniciada pelos
mesmos, passou a depender cada vez mais do acesso às fontes desses recursos, localizadas em paises periféricos.
A idéia de desenvolvimento econômico foi utilizada para explicar e fazer compreender a necessidade de destruir o meio físico, para justificar as formas de dependência que reforçam o caráter predatório do sistema produtivo. Desta forma quando um governo atinge metas de desenvolvimento econômico ele tem seu nível de aprovação multiplicado e suas atrocidades sócio-ambientais (normalmente realizadas para atender a tal processo de crescimento
econômico) são “esquecidas”. É como se todo este sacrifício viesse por uma causa justa!
Graças a essa idéia é possível desviar a atenção da tarefa básica de identificação das necessidades fundamentais da coletividade e das possibilidades que abrem ao homem o avanço da ciência, para concentrá-las em objetivos abstratos, como são os investimentos, as exportações e o crescimento. Este mito é um dos pilares da doutrina que serve de cobertura à dominação dos povos dos países periféricos dentro da nova estrutura do sistema capitalista.

A COP-15 de Copenhagen está aí para tentar articular outros paradigmas sociais e econômicos para os países. Dados recentes publicados pela Organização Não Governamental WWF, em seu relatório anual sobre a vida no planeta (Living Planet Report 2002), deixam claras as evidencias dessa busca incessante pelo desenvolvimento econômico de vários paises, e seus conseqüentes resultados no meio ambiente. Segundo o relatório em menos de 30 anos a biodiversidade de espécies terrestre diminuiu cerca de 15%, e a de água doce em aproximadamente 55%.
A estimativa para o número de pessoas para 2050 é de 9 bilhões, neste contexto projeções realizadas pela ONG, estima-se que a emissão de gás carbônico (CO2) passará dos atuais 11,7 bilhões de toneladas para aproximadamente 16 bilhões de toneladas por ano. O consumo de cereais ainda irá crescer cerca de 66%, os de produtos florestais cerca de 120% e o de carne e peixe em torno de 130% até 2050.
É evidente que o ecossistema não irá suportar a demanda por recursos naturais e consequentemente o sustento do continuo crescimento econômico e populacional no planeta.
Perante esses dados fica evidente que cada vez mais a busca pelo desenvolvimento econômico, nos moldes atuais, torna-se muito mais um mito do que uma realidade.
Segue com uma análise simplificada do que ocorre em nosso país, que é o exemplo dentre os vários países da atual busca deste “desenvolvimento”. Nosso crescimento econômico é baseado nos produtos agropecuários, ou seja, nossos recursos naturais. Nosso maior patrimônio é explorado e destruído em grande escala, a fim de ser vendido a preços definidos por outros mercados. O crescimento econômico gerado fica concentrado nas mãos de poucos,
aumentando ainda mais a nossa desigualdade interna. O governo usa a imagem de tal crescimento como sua principal propaganda e assim consegue aprovar leis de seu interesse, que muitas vezes vão contra muitos dos princípios básicos da boa ética governamental. Enquanto o povo por sua vez, olha esperançoso acreditando que tempos melhores virão. Acreditamos com certeza que este tempo virá, mas não desta forma. Não buscando a qualquer custo em um mito a possível solução para a realidade.