sábado, 9 de maio de 2009
Insight no II Forum
De repente, percebo que há uma diferença marcante nos usos dos termos Desenvolvimento Sustentável e Sustentabilidade. O primeiro parece ter mais legitimidade na medida em que habita os documentos e as mentes do poder público e do conhecimento universitário, que lhe atribui um sentido mais "amplo" do que a sustentabilidade, largamente empregado no meio empresarial. De novo, a dicotomia capital-social reverberando na linguagem, em estratégias discursivas que minam a possibilidade de um diálogo transparente. Acredito que essa diferença de sentido é caudátária de um pensamento que atrela o pensamento político e social moderno aos ideais da revolução francesa - Liberdade, Igualdade e Fraternidade, e o contrapoe a ideologia individualista do capital, reforçada no apelo consumista publicizado pelo mercado.
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sexta-feira, 8 de maio de 2009
II Forum, encontro com ex-diretora da Comunicação da Vale
As falas e debates da tarde do 2o dia não foram tão interessantes quanto as da manhã. E não porque os palestrantes tivessem peso menor, ao contrário, foram estrelas do mundo ambiental como Mohan Munasinghe, do IPCC da ONU, a ex-ministra e atual senadora Marina Silva e o vice-prefeito de São Gabriel da Cachoeira, André Baniwa, além do jornalista Washington Novaes e da atual diretora da Diagonal e ex-diretora de comunicação da Vale, Olinta Cardoso, que compuseram uma mesa renomada e autorizada.
Confesso que meu interesse particular convergia para a fala da Olinta, por conta de minha pesquisa sobre a Vale, mas os dois primeiros palestrantes, Mohan Munasinghe e Marina da Silva, extrapolaram seus tempos, tendo sobrado menos de 10 minutos para a Olinta falar. Embora respeite as posições, importância e legitimidade do IPCC e das lutas ambientais, a tendência preservacionista per se pode e deve ser mais debatido. Por exemplo, quando a ex-ministra criticou a postura de algumas empresas que confundem preservação ambiental com propaganda, como "pintar algo de verde ou plantar árvore não muda nada porque é preciso mudar antes a narrativa. Porque narrativa não é propaganda. Propaganda é mentira, e narrativa é ressignificar os objetivos da empresa". Essa satanização da propaganda, muito presente no senso comum e também nesses discursos ambientalistas, sempre dificulta o diálogo porque comunicação também é propaganda. Enfim, no final, Marina da Silva foi de longe a mais aplaudida pois seu discurso foi também muito combativo. Depois o Washington Novaes fez uma densa palestra, repleta de dados importantes, até pela sua enorme bagagem em relação a questão. Mas falar próximo do fim do evento e depois de duas falas tão extensas, prejudicou um pouco o acompanha
mento do seu raciocinio.
Por fim a Olinta, como alguém que vem da Comunicação, falou em até menos de 10 minutos e foi capaz de resumir coisas muito importantes como: pensar a comunicação empresarial é repensar a consciência social econômica e ambiental da empresa. Que há vários vetores para a sustentabilidade, mas que é a perspectiva relacional a principal. E que a comunicar é lidar com a criação de significados e, nas empresas, é preciso rever quase tudo relacionado a comunicação. A ciência da comunicação sozinha não dá conta de entender esses processos, precisa buscar outros componentes das ciências sociais. E o principal, que é preciso conhecer a fundo a história, a cultura e os conflitos dos públicos que se relacionam com as empresas. Pena que ela não pode aprofundar, mas apenas citar alguns pontos. Ao final, consegui o seu contato e vou entrevistá-la.
Enfim, um último comentário sobre os mediadores. Dos que vi em ação, Mona Dorf, Merval Pereira, Ricardo Kotscho e André Trigueiro, apenas o Ricardo Kotscho foi capaz de realmente mediar, ser espirituoso e astuto em seus comentários, relaxando o ambiente e tornando o diálogo muito mais profícuo entre os palestrantes e entre eles e a platéia. Os outros, globais de bancada, poderiam ver e aprender um pouco com o Kotscho.
Confesso que meu interesse particular convergia para a fala da Olinta, por conta de minha pesquisa sobre a Vale, mas os dois primeiros palestrantes, Mohan Munasinghe e Marina da Silva, extrapolaram seus tempos, tendo sobrado menos de 10 minutos para a Olinta falar. Embora respeite as posições, importância e legitimidade do IPCC e das lutas ambientais, a tendência preservacionista per se pode e deve ser mais debatido. Por exemplo, quando a ex-ministra criticou a postura de algumas empresas que confundem preservação ambiental com propaganda, como "pintar algo de verde ou plantar árvore não muda nada porque é preciso mudar antes a narrativa. Porque narrativa não é propaganda. Propaganda é mentira, e narrativa é ressignificar os objetivos da empresa". Essa satanização da propaganda, muito presente no senso comum e também nesses discursos ambientalistas, sempre dificulta o diálogo porque comunicação também é propaganda. Enfim, no final, Marina da Silva foi de longe a mais aplaudida pois seu discurso foi também muito combativo. Depois o Washington Novaes fez uma densa palestra, repleta de dados importantes, até pela sua enorme bagagem em relação a questão. Mas falar próximo do fim do evento e depois de duas falas tão extensas, prejudicou um pouco o acompanha
mento do seu raciocinio.
Por fim a Olinta, como alguém que vem da Comunicação, falou em até menos de 10 minutos e foi capaz de resumir coisas muito importantes como: pensar a comunicação empresarial é repensar a consciência social econômica e ambiental da empresa. Que há vários vetores para a sustentabilidade, mas que é a perspectiva relacional a principal. E que a comunicar é lidar com a criação de significados e, nas empresas, é preciso rever quase tudo relacionado a comunicação. A ciência da comunicação sozinha não dá conta de entender esses processos, precisa buscar outros componentes das ciências sociais. E o principal, que é preciso conhecer a fundo a história, a cultura e os conflitos dos públicos que se relacionam com as empresas. Pena que ela não pode aprofundar, mas apenas citar alguns pontos. Ao final, consegui o seu contato e vou entrevistá-la.
Enfim, um último comentário sobre os mediadores. Dos que vi em ação, Mona Dorf, Merval Pereira, Ricardo Kotscho e André Trigueiro, apenas o Ricardo Kotscho foi capaz de realmente mediar, ser espirituoso e astuto em seus comentários, relaxando o ambiente e tornando o diálogo muito mais profícuo entre os palestrantes e entre eles e a platéia. Os outros, globais de bancada, poderiam ver e aprender um pouco com o Kotscho.
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II Forum, manhã do 2o dia
O segundo dia do Forum comprovou a tendência do evento, muito mais tratando da sustentabildiade do que de comunicação. Abaixo, resumidamente, o que aconteceu:
Na abertura houve exibição de uma série de vídeos. O primeiro foi o do dossiê jovem MTV 2009. Como sempre, um vídeo muito bem editado e narrado. Depois vieram os videos dos patrocinadores (o do Bando do Brasil bem mais interessante do que o burocrático da Petrobrás). Em seguida houve uma exibição de um ótimo projeto do Instituto Elos - Guerreiros Sem Armas e sua intervenção no bairro do Paquetá em Santos. Fazia tempo que não via uma ação tão impactante, eles pegaram um área bem degradada do bairro, frequentada apenas por mendigos e vivados em drogas, e fizeram ações com voluntário do mundo todo que, em parceria coma comunidade, conseguiram transformar (não gosto do termo revitalizar) a área, limpando física e espiritualmente, reformarndo, pintando e o mais importante, fazendo a comunidade se reaprorpiar daquele espaço. Em pouco tempo eles conseguiram transformar muito (pena que o video não está no You Tube), mas vale a visita no site deles.
Pela manhã, a mesa foi composta por palestrantes da área politica e da educação, o que foi positivo para pensar as questões macro. Começou com a narrativa do confronto entre Católicos e Protestantes pelo ex-primeiro ministro da Irlanda, e como a comunicação ajudou aquele país a superar o conflito. Ele também não se furtou a pensar e problematizar a questão do Terrorismo como o avesso máximo da comunicação. Em seguida, o prof. dr. André Lazaro, representando o ministro da Educação Fernando Haddad, apresentou muitos dados sobre a educação no Brasil e reforçou que não se pode apenas jogar pedras no quadro educacional brasileiro pois, segundo ele, 97% das nossas crianças estão na escola, ou seja, 48 milhões delas têm escolaridade com acesso também a merenda, transporte, uniforme e material didático. Realmente não é pouco. Ao insistir que a qualidade virá também da quantidade, reforçou que é preciso haver menos partidarização e mais politização do debate. Não sei se foi impressão minha, mas vi um fundo arendtiano na fala dele. Houve também a fala idealista do representante da UNESCO Brasil, Vincent Defourny. Mas ele foi o primeiro a colocar 2 coisas importantes sobre comunicação. A primeira é a importância dos organismos de cooperação internacional que só se realizam pela comunicação, pois esta é a respiração das organizações e das sociedades. E também alertou para as três dimensões da comunicação: a sintática (abrir o canal), a semântica (pensar e discutir o sentido) e a pragmática (pôr em ação). Ele convidou todos a visitarem o site da UNESCO.
Os outros dois palestrantes são ótimos de oratória e suas palestras são sempre muito boas de ver, ouvir e reouvir. Os professores da área da educação Mario Sérgio Cortella e Terezinha Rios rechearam suas falas de ótimas citações e ironias, chegando a ser cartáticas e, por isso, muito persuasivas. Cortella finalizou sua fala citando Rabelais: "Conheço muitos que não puderam quando deviam porque não quiseram quando podiam". Foi ovacionado pela platéia (como de costume). E Terezinha, com sua fala mineira cheia de enrendamentos, pontuou a diferença entre o novo e o original, porque este não é a novidade mas aquilo que vai às origens, aos princípios de raiz. E da diferença entre a Moral, cuja questão é "O que devo fazer?", e a Ética que está mais relacionada as questões como "Que vida quero viver? E quais são as responsabilidades ligadas a essa escolha?". Mineiramente concisa e profunda, não sei se foi muito entendida pela platéia, mas com certeza, foram muito válidas as suas reflexões.
Na abertura houve exibição de uma série de vídeos. O primeiro foi o do dossiê jovem MTV 2009. Como sempre, um vídeo muito bem editado e narrado. Depois vieram os videos dos patrocinadores (o do Bando do Brasil bem mais interessante do que o burocrático da Petrobrás). Em seguida houve uma exibição de um ótimo projeto do Instituto Elos - Guerreiros Sem Armas e sua intervenção no bairro do Paquetá em Santos. Fazia tempo que não via uma ação tão impactante, eles pegaram um área bem degradada do bairro, frequentada apenas por mendigos e vivados em drogas, e fizeram ações com voluntário do mundo todo que, em parceria coma comunidade, conseguiram transformar (não gosto do termo revitalizar) a área, limpando física e espiritualmente, reformarndo, pintando e o mais importante, fazendo a comunidade se reaprorpiar daquele espaço. Em pouco tempo eles conseguiram transformar muito (pena que o video não está no You Tube), mas vale a visita no site deles.
Pela manhã, a mesa foi composta por palestrantes da área politica e da educação, o que foi positivo para pensar as questões macro. Começou com a narrativa do confronto entre Católicos e Protestantes pelo ex-primeiro ministro da Irlanda, e como a comunicação ajudou aquele país a superar o conflito. Ele também não se furtou a pensar e problematizar a questão do Terrorismo como o avesso máximo da comunicação. Em seguida, o prof. dr. André Lazaro, representando o ministro da Educação Fernando Haddad, apresentou muitos dados sobre a educação no Brasil e reforçou que não se pode apenas jogar pedras no quadro educacional brasileiro pois, segundo ele, 97% das nossas crianças estão na escola, ou seja, 48 milhões delas têm escolaridade com acesso também a merenda, transporte, uniforme e material didático. Realmente não é pouco. Ao insistir que a qualidade virá também da quantidade, reforçou que é preciso haver menos partidarização e mais politização do debate. Não sei se foi impressão minha, mas vi um fundo arendtiano na fala dele. Houve também a fala idealista do representante da UNESCO Brasil, Vincent Defourny. Mas ele foi o primeiro a colocar 2 coisas importantes sobre comunicação. A primeira é a importância dos organismos de cooperação internacional que só se realizam pela comunicação, pois esta é a respiração das organizações e das sociedades. E também alertou para as três dimensões da comunicação: a sintática (abrir o canal), a semântica (pensar e discutir o sentido) e a pragmática (pôr em ação). Ele convidou todos a visitarem o site da UNESCO.
Os outros dois palestrantes são ótimos de oratória e suas palestras são sempre muito boas de ver, ouvir e reouvir. Os professores da área da educação Mario Sérgio Cortella e Terezinha Rios rechearam suas falas de ótimas citações e ironias, chegando a ser cartáticas e, por isso, muito persuasivas. Cortella finalizou sua fala citando Rabelais: "Conheço muitos que não puderam quando deviam porque não quiseram quando podiam". Foi ovacionado pela platéia (como de costume). E Terezinha, com sua fala mineira cheia de enrendamentos, pontuou a diferença entre o novo e o original, porque este não é a novidade mas aquilo que vai às origens, aos princípios de raiz. E da diferença entre a Moral, cuja questão é "O que devo fazer?", e a Ética que está mais relacionada as questões como "Que vida quero viver? E quais são as responsabilidades ligadas a essa escolha?". Mineiramente concisa e profunda, não sei se foi muito entendida pela platéia, mas com certeza, foram muito válidas as suas reflexões.
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quinta-feira, 7 de maio de 2009
II Forum de Comunicação e Sustentabilidade. Anhembi, SP.
O tom conciliador dominou o primeiro dia do II Forum. As palestras muito consensuais entre si atenderam (talvez) a expectativa de uma platéia dominada por estudantes universitários. A exceção ficou por conta do Ferrez, poeta e empresário, que se disse muito feliz de, pela primeira vez, ter sido convidado para uma palestra sobre sustentabilidade e não sobre pobreza, crime etc. Ao explicar toda a trajetória de criação e afirmação da sua marca de moda 1DASUL, ele ironizou paradigmas do marketing e as grandes marcas ("marca é ilusão, marca vende ilusão") ao que se considera negócio sustentável, que para ele é muito simples. Significa não ganhar dinheiro sozinho, mas fazer quem participa da produção ganhar também ("quem me ensinou a administrar foi o Dostoiévski"). Outros bons palestrantes do dia foram: - Flavio Comin, do PNUD-ONU, que expôs a metodologia que enfatiza a comunicação em todo o processo de produção e divulgação do Relatório de Desenvolvimento Humano (Brasil Ponto-a-Ponto), que tem a participação do Percival Caropreso, ex McCann e hoje diretor da Setor 2 1/2).
- Bernardo Toro da fundação Avina, que enfatizou a importância do cuidado e da conversação. O cuidado com o outro e com o que se fala, sabendo ouvir, respeitar, fazer perguntas pertinentes, exercitar e acreditar no diálogo.
- Danah Zohar, física e filósofa, que explicou as três concepções de inteligência. A tradicional (I think), a inteligência emocional (I feel) e a inteligência espiritual (I am), com seus 13 conselhos. O mais interessante foi quando ela citou dados da psicologia: 94% dos sentimentos que movem as pessoas são negativos (será que a inteligência espiritual, com sua abordagem quase naïve seria capaz de reverter esse dado tão forte?).
- Bernardo Toro da fundação Avina, que enfatizou a importância do cuidado e da conversação. O cuidado com o outro e com o que se fala, sabendo ouvir, respeitar, fazer perguntas pertinentes, exercitar e acreditar no diálogo.
- Danah Zohar, física e filósofa, que explicou as três concepções de inteligência. A tradicional (I think), a inteligência emocional (I feel) e a inteligência espiritual (I am), com seus 13 conselhos. O mais interessante foi quando ela citou dados da psicologia: 94% dos sentimentos que movem as pessoas são negativos (será que a inteligência espiritual, com sua abordagem quase naïve seria capaz de reverter esse dado tão forte?).
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quarta-feira, 6 de maio de 2009
Maio fora de Belém
Com a história do assalto, acabei antecipando minha viagem para São Paulo. Vim uma semana antes e aí pude ir a Virada Cultural. Encontrei tantos alunos e ex-alunos da PUC que não acreditei. Foi ótimo encontrá-los e também o livro da Hannah On Revolution (versão pocket mas ótima), absolutamente esgotado no Brasil. Encontrei com os meninos do Publizität na COMFIL, de forma a nos preparar para o II Forum de Comunicação e Sustentabilidade. Hoje foi o primeiro dia do evento e é positivo ver que a pesquisa do pós-doc e os questionamentos conceituais e estratégicos dela são convergentes com o pensamento de nomes de peso como Bernardo Toro, Ferrez, Flavio Comin, Florestan Fernandes Jr. Legal e também preocupante. A pesquisa precisará ter fôlego para se inserir no debate. O exercicio do blog do Publizität está me ajudando a pensar de outra maneira, pois já penso para a net.
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