quarta-feira, 10 de junho de 2009
O lado burocrático da Pesquisa
Hoje acordei meio sobressaltada com a idéia de que não conseguiria fazer o relatório final exigido pelo CNPq como condição para a concessão da bolsa de pós-doc. Os mecanismos de solicitação, aguardo do julgamento, decisão, acompanhamento e finalização de um estágio com bolsa é sempre tenso. Isso porque há um projeto inicial que precisa ser efetivado, em todas as suas etapas, ao final do periodo. No entanto, a realidade é sempre maior e mais compelxa do que um projeto. E organizar isso em termos técnicos e de prestação de contas não é tarefa das mais fáceis. E qto maior é o projeto, mais complicado são os relatórios. De minha parte, mesmo não sendo uma pessoa inexperiente em lidar com sistemas online e elaboração de relatórios, noto o quanto eles tomam o tempo e a energia que deveria ter sido dada à pesquisa em si, à leitura e a reflexão. Hj mesmo, em meio a muitas consultas ao CNPq, emails e telefonemas, não fui capaz de ler e me concentrar nas ótimas fontes (dissertações, livros e periódicos) q havia achado ontem aqui na biblioteca do NAEA.
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segunda-feira, 8 de junho de 2009
Texto da Maria Celia Paoli
Parte II
"O texto visa a examinar a entrada no terreno do ativismo social voltado para o 'benefício público' de um ator nele inesperado: o empresariado. O interesse de examinar ação social voluntária vem sobretudo da ambiguidade com que se move em relação às delimitações entre interesse privado e ação pública, particularmente evidente do ponto de vista da interrogação do projeto (a possibilidade de ações contra-hegemônicas). É possivel perceber, de um lado, o possivel potencial inovador que a mobilização responsável empresrial dirige ao trasnbordamento da pobreza e das oportunidades de vida dapopulação carente. D outro lado, é visivel que essa mobilização oculta as políticas que aprofundam a exclusão social e desorientam politicamente a própria sociedade brasileira".
"Espero encaminhar neste capítulo a hipótese de que, não obstante os programas sociais produzidos pelo ativismo social empresarial apresentarem dimensões bastante positivas, os critérios próprios à noção de globalização hegemônica propostos neste projeto, como também os critérios acima expostos sobre o que vem a ser a dimensão pública e política do agir político, parecem indicar que este caso é mais um contra-exemplo de uma ação democrática participativa do que uma ação contra-hegemônica, podendo complementar-se, sem contradições insuperáveis, aos arranjos neoliberais".
Esses trechos das páginas 378 e 379 me fizeram refletir sobre alguns pontos.
O primeiro é a diferença entre ações filantrópicas e de RSE. Na verdade, há tempos que as empresas tentam imprimir profissionalismo às suas ações de RSE, incorporando-as às estratégias de negócios, inclusive anunciando publicitariamente essas ações. Ou seja, elas passam a compor o branding porque isso valoriza a percepção da marca pelos consumidores, que são informados sobre essas ações e podem decidir se acreditam ou não na proposta da empresa.
O segundo problematiza essa colocação de Paoli, pois quando nos aproximamos do cotidiano das relações estabelecidas entre empresa e os públicos impactados pelas ações, entram aí todos os fatores que escapam ao controle dos interlocutores em situação de comunicação, justamente por seu carater "entre". O que escapa e o que boicota. O que não funciona e o que resiste. E o simples fato de a empresa ter, em alguns casos, mais legitimidade junto às populações carentes (como é o caso da Vale) do que os próprios governantes, se isso facilita a ação mobilizadora num primeiro momento, seus efeitos nenhuma empresa jamais será capaz de controlar totalmente.
Terceiro: mesmo que apoiados em técnicas, profissionalismo e sistematização de conhecimento, os programas sociais e ambientais das empresas são, antes de tudo, um espaço de comunicação, pois a política de transparência exige visibilidade, que significa tornar público. Para Arendt, público significa, "em primeiro lugar, que tudo que vem a público pode ser visto e ouvido por todos e tem a maior divulgação possivel. Para nós, a aparência - aquilo que é visto e ouvido pelos outros e por nós mesmos - constitui a realidade. (...) Uma vez que nossa percepção da realidade depende totalmente da aparência, e portanto da existência de uma esfera pública (...) E em segundo lugar, o termo público significa o próprio mundo, na medida em que é comum a todos nós... Conviver no mundo significa essencialmente ter um mundo interposto entre os que nele habitam, como uma mesa se interpõe entre os que assentam a seu redor, pois, como todo intermediário, o mundo ao mesmo tempo separa e establece uma relação entre homens". E esse mundo, no caso da pesquisa é um território do planeta terra privilegiado em riquezas naturais (ameaçado) e altamente desprivilegiado em recursos humanos, devido ao baixo IDH da população (ameaça). Este é o mundo, a mesa, a esfera pública onde emergem ações (no sentido tb arendtiano, em contraponto a noção de comportamento) que são também, discursos, situações de comunicação. É percebendo o papel da mesa, o que ela tem de ponte e de abismo, que podemos tomá-la ou não como o palco da vida activa, capaz de gerar o ato inédito (natalidade) que Arendt diz só ser possivel de ser realizado por homens, entre homens, ou seja, na esfera pública. E desse encontro sempre pode surgir o ato inédito, libertador, que pode ser inclusive a empresa perceber que, depois de treinados e capacitados, aqueles mesmos a quem ela tentava "ajudar" podem utilizar suas competências para reivindicar direitos contrários aos interesses das empresas.
E , por fim, é emblemático que boa parte do pensamento de Hannah Arendt impresso no livro A Condição Humana, autora basilar para Paoli, só foi possivel graças ao apoio de duas bolsas da Fundação Rockefeller. Ou seja, novamente, desacreditar o ativismo social empresarial é, de alguma forma, não perceber que a fratura entre capital e social é um paradigma do pensamento ocidental que precisa ser revisto.
"O texto visa a examinar a entrada no terreno do ativismo social voltado para o 'benefício público' de um ator nele inesperado: o empresariado. O interesse de examinar ação social voluntária vem sobretudo da ambiguidade com que se move em relação às delimitações entre interesse privado e ação pública, particularmente evidente do ponto de vista da interrogação do projeto (a possibilidade de ações contra-hegemônicas). É possivel perceber, de um lado, o possivel potencial inovador que a mobilização responsável empresrial dirige ao trasnbordamento da pobreza e das oportunidades de vida dapopulação carente. D outro lado, é visivel que essa mobilização oculta as políticas que aprofundam a exclusão social e desorientam politicamente a própria sociedade brasileira".
"Espero encaminhar neste capítulo a hipótese de que, não obstante os programas sociais produzidos pelo ativismo social empresarial apresentarem dimensões bastante positivas, os critérios próprios à noção de globalização hegemônica propostos neste projeto, como também os critérios acima expostos sobre o que vem a ser a dimensão pública e política do agir político, parecem indicar que este caso é mais um contra-exemplo de uma ação democrática participativa do que uma ação contra-hegemônica, podendo complementar-se, sem contradições insuperáveis, aos arranjos neoliberais".
Esses trechos das páginas 378 e 379 me fizeram refletir sobre alguns pontos.
O primeiro é a diferença entre ações filantrópicas e de RSE. Na verdade, há tempos que as empresas tentam imprimir profissionalismo às suas ações de RSE, incorporando-as às estratégias de negócios, inclusive anunciando publicitariamente essas ações. Ou seja, elas passam a compor o branding porque isso valoriza a percepção da marca pelos consumidores, que são informados sobre essas ações e podem decidir se acreditam ou não na proposta da empresa.
O segundo problematiza essa colocação de Paoli, pois quando nos aproximamos do cotidiano das relações estabelecidas entre empresa e os públicos impactados pelas ações, entram aí todos os fatores que escapam ao controle dos interlocutores em situação de comunicação, justamente por seu carater "entre". O que escapa e o que boicota. O que não funciona e o que resiste. E o simples fato de a empresa ter, em alguns casos, mais legitimidade junto às populações carentes (como é o caso da Vale) do que os próprios governantes, se isso facilita a ação mobilizadora num primeiro momento, seus efeitos nenhuma empresa jamais será capaz de controlar totalmente.
Terceiro: mesmo que apoiados em técnicas, profissionalismo e sistematização de conhecimento, os programas sociais e ambientais das empresas são, antes de tudo, um espaço de comunicação, pois a política de transparência exige visibilidade, que significa tornar público. Para Arendt, público significa, "em primeiro lugar, que tudo que vem a público pode ser visto e ouvido por todos e tem a maior divulgação possivel. Para nós, a aparência - aquilo que é visto e ouvido pelos outros e por nós mesmos - constitui a realidade. (...) Uma vez que nossa percepção da realidade depende totalmente da aparência, e portanto da existência de uma esfera pública (...) E em segundo lugar, o termo público significa o próprio mundo, na medida em que é comum a todos nós... Conviver no mundo significa essencialmente ter um mundo interposto entre os que nele habitam, como uma mesa se interpõe entre os que assentam a seu redor, pois, como todo intermediário, o mundo ao mesmo tempo separa e establece uma relação entre homens". E esse mundo, no caso da pesquisa é um território do planeta terra privilegiado em riquezas naturais (ameaçado) e altamente desprivilegiado em recursos humanos, devido ao baixo IDH da população (ameaça). Este é o mundo, a mesa, a esfera pública onde emergem ações (no sentido tb arendtiano, em contraponto a noção de comportamento) que são também, discursos, situações de comunicação. É percebendo o papel da mesa, o que ela tem de ponte e de abismo, que podemos tomá-la ou não como o palco da vida activa, capaz de gerar o ato inédito (natalidade) que Arendt diz só ser possivel de ser realizado por homens, entre homens, ou seja, na esfera pública. E desse encontro sempre pode surgir o ato inédito, libertador, que pode ser inclusive a empresa perceber que, depois de treinados e capacitados, aqueles mesmos a quem ela tentava "ajudar" podem utilizar suas competências para reivindicar direitos contrários aos interesses das empresas.
E , por fim, é emblemático que boa parte do pensamento de Hannah Arendt impresso no livro A Condição Humana, autora basilar para Paoli, só foi possivel graças ao apoio de duas bolsas da Fundação Rockefeller. Ou seja, novamente, desacreditar o ativismo social empresarial é, de alguma forma, não perceber que a fratura entre capital e social é um paradigma do pensamento ocidental que precisa ser revisto.
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domingo, 7 de junho de 2009
Sobre o texto de M. C.Paoli, Empresas e Responsabilidade Social: os enredamentos da cidadania no Brasil
PARTE 1
Essse artigo da Maria Célia Paoli, da pós em Sociologia da USP é uma das minhas bases de apoio. Sobretudo pelo seu objetivo explícito: "avaliar os potenciais contra-hegemônicos da ação empresarial filantrópica remetido à idéia da recuperação do sentido político e público que Hannah Arendt sumarizou na idéia do agir político para um 'mundo comum'".
Os dois espaços que implicam essas ações:
1. "o espaço de origem da ação: o mundo empresarial"
2. "o espaço da política e da sociabilidade que ela cria, ou seja, a ampliação (ou anulação) da consciência e prática de direitos de cidadania"
"Desde os anos 1980, a palavra "cidadania", circulando como linguagem conotativa de civilidade e integração social, e portanto aparecendo como uma alternativa de segurança e ordem incapaz de ser fornecida pelos tradicionais modos autoritários e policiais de agir e de pensar sobre os problemas, gerou na opinião pública uma demanda por responsabilidade apenas secundariamente dirigida ao governo. De fato, esta demanda foi capturada através do apelo ao ativismo social voluntário da população, e a palavra "solidariedade" tornou-se, no senso comum, a disposição altruista voluntária de um indivíduo, uma organização ou uma empresa, um quase sinônimo de cidadania".
"Isso se dá no momento em que os governos dos anos 90 eram impelidos, pelo modelo econômico neoliberal adotado, a livrar-se do investimento em obrigações públicas de proteção e garantis eficazes dos direitos sociais."
"Desse quadro surge a assim chamada "sociedade civil" que, primeiramente através de movimentos sociais autônomos e politizados, e depois de organizações não-governamentais profissionalizadas, deslocou o ativismo político pela cidadania e justiça social para o ativismo civil voltado para a solidariedade. Se o caminho aberto pelos movimentos sociais era fortemente politizadoe implicava a demanda direta da população carente organizada por bens públicos, o caminho das ONGs opta por representar as demandas populares em negociações pragmáticas, tenicamente formuladas, com o sgovernos, dispensando a base ampliada da participação popular".
Essse artigo da Maria Célia Paoli, da pós em Sociologia da USP é uma das minhas bases de apoio. Sobretudo pelo seu objetivo explícito: "avaliar os potenciais contra-hegemônicos da ação empresarial filantrópica remetido à idéia da recuperação do sentido político e público que Hannah Arendt sumarizou na idéia do agir político para um 'mundo comum'".
Os dois espaços que implicam essas ações:
1. "o espaço de origem da ação: o mundo empresarial"
2. "o espaço da política e da sociabilidade que ela cria, ou seja, a ampliação (ou anulação) da consciência e prática de direitos de cidadania"
"Desde os anos 1980, a palavra "cidadania", circulando como linguagem conotativa de civilidade e integração social, e portanto aparecendo como uma alternativa de segurança e ordem incapaz de ser fornecida pelos tradicionais modos autoritários e policiais de agir e de pensar sobre os problemas, gerou na opinião pública uma demanda por responsabilidade apenas secundariamente dirigida ao governo. De fato, esta demanda foi capturada através do apelo ao ativismo social voluntário da população, e a palavra "solidariedade" tornou-se, no senso comum, a disposição altruista voluntária de um indivíduo, uma organização ou uma empresa, um quase sinônimo de cidadania".
"Isso se dá no momento em que os governos dos anos 90 eram impelidos, pelo modelo econômico neoliberal adotado, a livrar-se do investimento em obrigações públicas de proteção e garantis eficazes dos direitos sociais."
"Desse quadro surge a assim chamada "sociedade civil" que, primeiramente através de movimentos sociais autônomos e politizados, e depois de organizações não-governamentais profissionalizadas, deslocou o ativismo político pela cidadania e justiça social para o ativismo civil voltado para a solidariedade. Se o caminho aberto pelos movimentos sociais era fortemente politizadoe implicava a demanda direta da população carente organizada por bens públicos, o caminho das ONGs opta por representar as demandas populares em negociações pragmáticas, tenicamente formuladas, com o sgovernos, dispensando a base ampliada da participação popular".
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