sexta-feira, 5 de junho de 2009

quinta-feira, 4 de junho de 2009

História da Vale pode ser dividida em 6 periodos caracteristicos

1942-1962
Processo de crescimento, marcado pelo saneamento da empresa e expansão de mercado. Restrição espacial ao eixo Vitória-Minas e a verticalização manteve-se restrita as variações do produto final minério de ferro.

1962-1967
Marcado pela reforma administrativa. Processo embrionário de diversificação das atividades, com a criação da Floresta Rio Doce S.A.

1967-1975
Esforços de diversificação e início da expansão da CVRD para a Amazônia.

1975-1985
Consolidação da diversificação e expansão da Cia. na Amazônia, sobretudo pela implantação do Projeto Grande Carajás e a construção da Estrada de Ferro Carajás.

1985-1997
Fortalecimento da CVRD na Amazônia (Carajás, Barcarena e Paragominas), enxugamento do quadro decisório, implantação da terceirização e discussão em torno da privatização.

1997-2009
Privatizada, a Vale passa a ser controlada pelo Consórcio Brasil (no inicio comandado pela CSN), mas logo depois, formalmente comandada pelos fundos Bradespar (do Bradesco) e fundos de pensão Previ e Petros que assumem a frente do negócio, expandindo a Vale para o mundo, tornando-a uma empresa global, que pautada na eficiência, gera lucros inéditos aos seus acionistas.

O Outro Lado da Privatização da Vale

Entre 1969 e 1979, as vendas da CVRD ao exterior cresceram 285% e a empresa se consolidou como a maior exportadora de minério de ferro do mundo, posição que ocupa até hoje. Em 1985, colocou em operação o projeto Ferro Carajás, iniciando a exploração de reservas de 18 bilhões de toneladas de ferro no sul do Estado do Pará.

A História da Privatização
Em 1993, a Fundação Getúlio Vargas classificou a Vale como a primeira empresa no ranking nacional. Dois anos depois, em 1995, Fernando Henrique Cardoso incluiu a CVRD no Programa Nacional de Desestatização. Dois bancos estrangeiros avaliaram em R$ 10,36 bilhões as ações da CVRD, mas não consideraram o potencial das reservas minerais em poder da empresa. Embora sempre tivesse operado com balanço positivo, batendo seguidos recordes de produção e faturamento, a empresa foi privatizada em 7 de maio de 1997 pelo governo de FHC, tendo sido comprada por um consórcio liderado pela CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), que adquiriu 41,73% das ações ordinárias do governo federal por US$ 3,338 bilhões.

Resultado: este Consórcio Brasil, formado pela Companhia Siderúrgica Nacional, a Bradespar (do grupo Bradesco) e o fundo de investimentos Previ, arrematou 41,73% das ações por R$ 3,3 bilhões, o suficiente para assumir o controle da empresa. Ficou no ar a sensação de que foi um jogo de cartas marcadas.

Em 2003, a Vale apresentou o maior lucro líquido de sua história: R$ 4,5 bilhões, recuperando em um ano o valor pago no leilão de privatização. No mesmo ano, também houve um salto na desnacionalização da empresa, já que 67% dos negócios com as ações da Vale foram realizados na Bolsa de Nova York, contra 33% realizados no Brasil.

Também em janeiro de 2003, o valor da empresa superava a barreira dos US$ 100 bilhões. Em dez anos ele se multiplicou por dez, demonstrando que o preço do leilão foi inferior e o mercado fez o ajuste ao valor real.Ficou de fora do preço mínimo da empresa um conglomerado com cerca de 60 empresas, incluindo a infra-estrutura ferroviária, com nove mil quilômetros de malha ferroviária e vários terminais portuários. Também ficaram de fora do valor da Vale suas participações em empresas como Usiminas, Açominas, CSN e outras. Também não entrou na avaliação o grosso das reservas minerais da empresa. A CVRD informou à Comissão de Valores Mobiliários dos EUA, em 1995, números rebaixados das suas reservas totais de minério, com a intenção de diminuir o valor da empresa. As reservas totais de minério de ferro, ao invés de três bilhões de toneladas, alcançavam 19 bilhões de toneladas. As reservas de potássio, ao invés das quatro, eram de fato 19 milhões de toneladas. As reservas de manganês, ao invés das 30, eram na verdade 63 milhões de toneladas. As reservas de bauxita, ao invés das 197, eram de fato 303 milhões de toneladas.Sem considerar a produção de ouro, platina, cobalto, níquel, nióbio, quartzo, titânio, calcário, fosfato, zinco, cassiterita, entre outros, as reservas provadas da Vale teriam, nos preços de hoje, um valor aproximado de US$ 215 bilhões. Mas elas não foram computadas no valor da empresa quando privatizada.Por que os dois bancos responsáveis pela avaliação da CVRD, o Bradesco e o Merril Lynch, não incorporaram o valor total da CVRD? Muito simples: o Bradesco se tornou co-proprietário da Vale privatizada. É como colocar o lobo cuidando do galinheiro. Esta irregularidade já seria suficiente para anular o leilão de privatização da Vale. A lei de licitação para a venda da empresa define que não pode haver nenhum vínculo entre o avaliador e o comprador. O Bradesco era dono de 17,9% do capital votante da CSN, empresa que liderou a compra da Vale. O banco participou, a partir do ano 2000, do bloco controlador da Vale, através do Bradespar.

Passados quase dez anos, ainda hoje críticos insistem que a Vale foi vendida abaixo de seu valor real. Foi pedida a revogação do processo de privatização em mais de 100 ações, algumas ainda em trâmite na Justiça. As chances de vitória para os acusadores são consideradas mínimas por especialistas.


Autor: Nazareno Godeiro, de Belo Horizonte (MG).
Fonte: jornal Opinião Socialista do PSTU (Partido Socialistas dos Trabalhadores Unificado). Edição nº 310 De 16 a 22 de agosto de 2007
(http://www.pstu.org.br/jornal_materia.asp?id=7261&ida=0)

Cronologia Resumida da Vale (com os fatos mais importantes desde sua criação, segundo a própria Cia.)

OBS.: todas as ações mais diretamente ligadas ao tema do pós-doc estão grifadas em vermelho.

Em 1° de junho de 1942, Getúlio Vargas publicava o Decreto 4.352 que encampava as Companhias Brasileira de Mineração e Siderurgia S.A. e Itabira de Mineração S.A. para criar a Companhia Vale do Rio Doce, com o propósito de explorar as jazidas da região de Itabira, bem como garantir o suprimento de ferro . E em 11 de janeiro de 1943 reuniu-se a assembléia de acionistas, que aprovou os estatutos da empresa fixando a sede administrativa em Itabira (MG) e o domicílio jurídico no Rio de Janeiro (RJ). Da sua sede em Itabira (em tupi, pedra que brilha), talvez por ironia, terra do grande poeta Carlos Drummond de Andrade (1902–1987), que a descreveu como cidade que tem "noventa por cento de ferro nas calçadas; oitenta por cento de ferro nas almas" partia ferro para abastecer a nascente Companhia Siderúrgica Nacional. Israel Pinheiro foi eleito o primeiro presidente da empresa.

Já em 1949, a Vale é responsável por 80% das exportações brasileiras de minério de ferro. Neste mesmo ano, criou-se o Centro de Estudos Ferroviários em Vitória (ES), sob orientação de Eliezer Batista da Silva.
No início da década de 1950 o Governo brasileiro assume o controle definitivo do sistema operacional da Vale. É realizado o primeiro embarque de minério de ferro para o Japão. Depois de montar um complexo mina-ferrovia-porto, em 1951, a estatal exportou seu primeiro 1,5 milhão de toneladas de minério de ferro. Seguiu-se uma década de política de comercialização agressiva, que a transformou numa exportadora de peso mundial.
Em 1960 foi criada a Companhia Siderúrgica Vatu, primeira subsidiária da Vale para o beneficiamento de minérios, fabricação e comercialização de ferro-esponja.
Em 1962, foram assinados contratos de longo prazo com siderúrgicas japonesas e usinas alemãs. Em 2 de outubro, é criada a subsidiária Vale do Rio Doce Navegação S.A. (Docenave).
Em 1966, inauguração do Porto de Tubarão, em Vitória (ES).
Em 1967, geólogos da cia. Meridional de Mineração, subsidiária da United States Steel Corp., constatam a ocorrência de minério de ferro em Carajás (PA).
Em 1970, acordo torna a Vale sócia majoritária do empreendimento de Carajás (PA), junto com a US Steel Co.
Em 7 de julho de 1971, é fundada a Rio Doce Geologia e Mineração S.A. (Docegeo), subsidiária integral da Vale, com o objetivo de realizar pesquisas e lavra de minério.
Em 1972, Vale e US Steel constituem a Valuec Serviços Técnicos, para analisar a viabilidade do Projeto Carajás. E Vale firma convênio com a Alcan Aluminiun Ltd., do Canadá, para um projeto de exploração de bauxita na região do Rio Trombetas.
A Vale se torna a maior exportadora de minério de ferro do mundo, detentora de 16% do mercado transoceânico do minério em 1974.
Em 1975, pela primeira vez, a Vale lança debêntures no mercado internacional, no valor de 70 milhões de marcos, com intermediação do Dresdner Bank.
Em 1976, o Decreto nº 77.608 outorga à Vale a concessão para construção, uso e exploração da estrada de ferro entre Carajás (PA) e São Luís (MA).
Em 1977, Vale anuncia prioridade ao Projeto Carajás, para, a partir de 1982, iniciar a exportação do minério de ferro pelo Porto de Itaqui (MA).
Em 1978, Projeto Carajás é reformulado e reduzido a dimensões mais modestas em vista da queda da demanda mundial por minério de ferro. Início da construção da Estrada de Ferro Carajás (EFC).
Em 1979, início efetivo da implantação do Projeto Ferro Carajás, adotado como principal meta da estratégia empresarial da Vale

1980
- Governo Federal aprova o Projeto Ferro Carajás e dá o aval financeiro.
- Vale incorpora a Amazônia Mineração (Amza), criando a Superintendência de Implantação do Projeto Ferro Carajás (Sumip).
- Constituição do Conselho Técnico de Ecologia (Geamam), composto por cientistas das universidades brasileiras.

1985
- Em 28 de fevereiro, a empreiteira Rodominas entrega a Estrada de Ferro Carajás (EFC) à Vale. - Inauguração do Pojeto Ferro Carajás, que aumenta a capacidade produtiva da empresa, agora estruturada em dois sistemas logísticos distintos (norte e sul).

1986
- Início da operação do terminal portuário de ponta da madeira, em São Luís (MA).

1988
- Vale elimina o uso de carvão vegetal de florestas nativas e alcança auto-suficiência do material a partir de florestas plantadas.

1989
- Vale elabora Plano Estratégico 1989-2000, com foco na internacionalização.
- Implantação do Programa de Participações nos Resultados (PR) para os empregados da Vale.

1992
- Apresentação do primeiro projeto de desenvolvimento sustentável do país, o Projeto Pólos Florestais, na Conferência ECO 92, no Rio de Janeiro (RJ).

1993
- O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas classifica a Vale como a primeira empresa no ranking nacional.

1994
- Em março, a Vale lança seu programa de american depositary receipts (ADR), negociáveis no mercado de balcão dos estados unidos sob o código CVROY.

1995
- A Vale é incluída no programa nacional de desestatização pelo decreto n° 1.510, de 1º de junho, assinado pelo presidente da república, Fernando Henrique Cardoso.

1996
- Em 10 de outubro, o conselho nacional de desestatização (CND) aprova o modelo de desestatização da Vale.

1997
- O Ministro do Planejamento, Antônio Kandir, anuncia, em 22 de janeiro, que o leilão de venda do controle acionário da Vale ocorrerá em abril.
- BNDES divulga, em 6 de março, o edital de privatização da vale.
- BNDES lança cartilha sobre a privatização da vale.
- Em 6 de maio, a Vale é privatizada em leilão realizado na bolsa de valores do Rio de Janeiro
- Participaram do leilão o consórcio Valecom, articulado pelo grupo Votorantim, e o consórcio Brasil, liderado pela CSN.
- O Consórcio Brasil arremata 41,73% das ações ordinárias da vale por r$ 3.338 milhões em moeda corrente.
- Em 12 de maio, o presidente da CSN, Benjamin Steinbruch, é nomeado, em assembléia geral de acionistas, presidente do conselho de administração da Vale.
- Jair Bilachi, da previ, é o vice-presidente.

1998
- No primeiro ano após a privatização, a vale atinge crescimento de 46% no lucro em relação a 96.
- Lançado o programa "de volta para o futuro", de apoio à educação formal, para propiciar o primeiro grau completo a todos os empregados da Vale.

1999
- Vale tem o maior lucro de sua história: r$ 1,251 bilhão.

2000
- Vale produz 119,7 milhões de toneladas de minério de ferro, um recorde histórico.

2001
- 29 de março: lançado o banco de dados do projeto Vale Memória, no Rio de Janeiro, idealizado e produzido pelo Museu da Pessoa.
- Março: efetivado o descruzamento das participações acionárias envolvendo a Vale e a CSN.

2002
- Março: inaugurada oficialmente a usina de pelotização de São Luís (MA).
- 2 de maio: o presidente Fernando Henrique Cardoso lança a pedra fundamental do projeto de Cobre do Sossego (PA).
- Julho: mês do aniversário de 35 anos de operação de Carajás, Vale atinge recorde na produção de minério de ferro, 5 milhões de toneladas.

2003
- 16 de janeiro: a Vale anuncia parceria com a Mitsui, empresa japonesa da área de logística, para negócio de transporte intermodal.
- 31 de março: a Vale compra 50% das ações da Caemi mineração e metalurgia s. a. (Caemi) por US$ 426,4 milhões.
- Durante o ano: 67% dos negócios com as ações da Vale foram realizados na bolsa de Nova York, contra 33% realizados na Bovespa, no Brasil, nenhuma empresa desenvolveu tantos projetos como a Vale, que reforça sua posição de maior investidora privada do país, ao aplicar US$ 1,988 bilhão em 2003.

2004
- 5 de janeiro: as ações da Vale atingem recorde histórico de rendimento. Com isso, a empresa alcança valor superior a R$ 23 bilhões no mercado.
- 2 de julho: inaugurada a Mina do Sossego, a primeira mina de cobre do Brasil, no Pará. O projeto, realizado em tempo recorde, teve 73% de sua mão-de-obra local. A previsão é que, em 2010, os projetos de cobre da Vale já estejam produzindo 650 mil toneladas anuais.
- Novembro: a Vale atinge o valor de mercado de us$ 25 bilhões..

2005
- A empresa foi escolhida por analistas de investimento, pela terceira vez consecutiva, em pesquisa realizada, pela conceituada revista Institutional Investor, como a empresa que possui a melhor governança corporativa na indústria de mineração e metais da América Latina.
- Em 22 de setembro acontece o lançamento do Vale Investir, programa que permite aos investidores brasileiros reinvestir automaticamente os recursos recebidos provenientes da remuneração aos acionistas – dividendos e/ou juros sobre o capital próprio – na compra de ações da empresa.
- Vale registra recorde histórico na produção de minério de ferro, alcançando a marca de 240,413 milhões de toneladas, 10,3% acima do volume produzido em 2004, 218,010 milhões de toneladas.
- A empresa consolida seu ingresso na indústria de concentrado de cobre, com o primeiro ano integral de operação da Mina do Sossego e vendas para 13 clientes em 11 diferentes países. a produção do Sossego ultrapassa, em 2005, a barreira das 100 mil toneladas de cobre em concentrado, totalizando 107 mil toneladas.
- Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (ABERJE) concede à Vale, no dia 8/12, o prêmio ABERJE nacional de melhor empresa de comunicação do ano nas categorias eventos especiais, vídeo de comunicação externa, e-news interna, relacionamento com comunidade e internet, além de 19 prêmios regionais, em diversas categorias.
- Centro de formação e qualificação profissional foi destaque pelo programa de trainees, denominado programa caça-talentos. Durante 11 meses, sob a orientação de um executivo da empresa, 150 jovens recém-graduados participaram de um programa de formação teórica e prática.
- A Vale foi premiada, neste ano, pela revista biodiversidade e pelo trabalho de pesquisa desenvolvido com o instituto ambiental Vale do Rio Doce - IAVRD.

2006
- 4 de janeiro: a usina hidrelétrica de Aimorés entra em regime de operação comercial plena, gerando 140mw para o sistema elétrico brasileiro.
- 5 de junho: a Vale conquista dois prêmios pela International Association of Business Comunicators - IABC, nas categorias comunicação com empregados e publicação.

2007
- 25 de maio: foi protocolado o prospecto preliminar junto à comissão de valores mobiliários (CVM), referente à oferta pública de distribuição primária e secundária de ações ordinárias de emissão de nossa subsidiária Log-In Logística Intermodal s/a.
- 24 de setembro: foi anunciado o plantio de 346 milhões de árvores até 2010, o que corresponde ao maior projeto de revegetação e preservação ambiental da América Latina.
- 25 de outubro: anunciamos investimentos de us$ 11 bilhões para 2008 – o maior programa já anunciado por uma mineradora no mundo.

- Lançamento da campnha mudial com o novo Logo e Nome da Vale

2009
22 de maio A Vale informa que a proposta de mudança de seu nome legal para Vale S.A. de Companhia Vale do Rio Doce foi aprovada hoje na Assembléia Geral Extraordinária.

Fonte: site da cia. e suas subsidiárias. A cronologia no site se encerra em 2007 ( apenas a nota da mudança do nome legal foi acrescentada) . Assim que eles atualizarem o biênio 2008-2009, também o farei aqui.

O embrião da Vale

A história do surgimento da Vale está intimamente ligada à história do Estado de Minas Gerais e à construção da Estrada de Ferro Vitória-Minas (CEFVM), iniciada em 1903. Poucos anos depois o recém-criado Serviço Geológico e Mnieralógico do Brasil revelou a existência de grandes jazidas de ferro na região de Itabira. Os engenheiros ingleses envolvidos no projeto de construção consultaram a CEFVM sobre a possibilidade do minério extraído ser transportado pela ferrovia. Afirmado o contrato e fixado o preço, esse grupo e alguns investidores internacionais fundaram o Brazilian Hematite Syndicate, que já em 1909 optou adquiriu a maioria das ações da CEFVM e extensas glebas de terra próximas a Itabira.

Em 1910, no XI Congresso Geológico e Mineralógico, realizado em Estocolmo, na Suécia essas reservas foram estimadas em 2 bilhões de toneladas métricas. No mesmo ano foram esboçados os primeiros projetos de levar a ferrovia até Itabira (MG). Com dificuldades ela foi avançando no sentido da cidade mineira de Diamantina. Em 16 de junho de 1911, através do decreto No 8787, o governo brasileiro autorizou o funcionamento no país da Itabira Iron Ore Company, empresa organizada pelo grupo inglês Brazilian Hematite Syndicate para operar o processo de exploração e exportação de minério de ferro das jazidas de Itabira, então administrada pelo empresário norteamericano Percival Farquhar.

Farquhar pretendia extrair o minério de ferro de Itabira para exportá-lo - ao ritmo de cerca de 10 milhões de toneladas/ano - através de Santa Cruz, ES, onde construiria uma pequena usina siderúrgica (com capacidade de 150 mil toneladas/ano), capaz de produzir materiais siderúrgicos mais básicos tais como trilhos, perfis, chapas grossas e vigas. Navios do Sindicato Farquhar levariam o minério de ferro aos países industrializados e retornariam carregados de carvão mineral, oriundo dos Estados Unidos e da Europa, suprindo assim a ausência desse insumo essencial no Brasil.

Esse ousado e gigantesco projeto, orçado em 80 milhões de dólares, obteve toda a simpatia do presidente da república Epitácio Pessoa, que assinou o famoso Contrato Itabira de 1920. Imediatamente Farquhar passaria a sofrer uma feroz oposição de Arthur Bernardes, presidente do Estado, então quase autônomo, de Minas Gerais.

Farquhar sofre seu primeiro revés quando Arthur Bernardes se torna Presidente da República, em 1922, e promulga uma lei que taxava em 3 mil réis por tonelada o minério de ferro que fosse exportado em bruto, inviabilizando assim o negócio.

Em 1930 Getúlio Vargas, de forte discurso e tendência nacionalista, contando com o apoio dos tenentes, assume o poder no Brasil à frente da revolução de 30. Em 1935, o governo de Getúlio Vargas enfrenta os interesses da poderosa Itabira Iron Ore encampando a Estrada de Ferro Vitória a Minas. Sete anos depois é outorgada uma nova constituição para o Estado Novo, determinando que a exploração das jazidas minerais no Brasil passe a depender de prévia concessão do governo federal, a qual só poderá ser outorgada a empresas brasileiras, cujos acionistas sejam brasileiros.

Em 1941 Farquhar, vendo sua margem de manobra cada vez mais tolhida por Getúlio Vargas, resolve associar-se a empresários brasileiros e divide a Itabira Iron Ore em duas empresas "brasileiras": a Companhia Brasileira de Mineração e Siderurgia e a Companhia Itabira de Mineração, mas esse expediente tardio não surtiu o resultado imaginado por Farquhar.
Simultaneamente, em decorrência da Segunda Guerra Mundial, a situação da Inglaterra em 1940-41 era de quase total isolamento. Pressionada por Hitler, que sabendo ser impossível invadir a ilha por mar, adotava a estratégia da guerra aérea e submarina, a Inglaterra direcionou suas forças e recursos para dentro, reestruturando sua indústria bélica, que necessitava urgentemente de matéria-prima. E foram as duas empresas brasileiras recém criadas por Farqhuar que sustentariam as necessidades de ferro da Inglaterra durante a Guerra, elevando diretamente o índice de exportação de ambas as empresas.

Foi o ataque a Pearl Harbour, no final de 1941, que não somente marcou o início da reversão do curso da guerra como também o da reversão da posição do governo brasileiro. Sob o impacto da entrada dos Estados Unidos na guerra (11 de dezembro de 1941) realizou-se no mês seguinte, no Rio de Janeiro, a III Reunião de Consulta dos Chanceleres das Repúblicas Americanas. Três eram os objetivos dos Estados Unidos: obter o rompimento de todo o continente com os países do Eixo, tornar efetiva a cooperação militar e garantir o suprimento de matérias-primas estratégicas. A Argentina se mostrou francamente hostil à proposição norte-americana, o que aumentou a importância da posição a ser adotada pelo Brasil. Vendo ampliado seu poder de barganha, Getúlio Vargas negociou então, como condição implícita para aceitar demandas norte-americanas (que incluíam a utilização das bases do Nordeste, estreita colaboração militar e fornecimento de matérias-primas), uma série de garantias militares, a liberação efetiva dos recursos necessários à construção de Volta Redonda e todo um conjunto de medidas de ordem comercial. Mais ainda, conseguiu fazer com que os americanos intercedessem junto ao governo inglês no sentido de evitar quaisquer objeções à encampação das reservas de minério de ferro ainda em poder de Farquhar.

Estes entendimentos foram denominados Acordos de Washington (assinados em março de 1942) e constituíram um marco político importante. De um lado, porque eles puseram fim à fase de expectativa quanto ao desfecho da guerra e de hesitação quanto ao engajamento do Brasil no lado dos Aliados; de outro porque, vencida essa hesitação, foi o próprio Vargas quem tomou a iniciativa de tentar transformar esse engajamento numa "aliança privilegiada" (em relação aos demais países da América Latina) com os Estados Unidos e de estendê-la aos campos político, militar e econômico. No plano econômico, na vinda ao Brasil, também por solicitação de Vargas, da primeira missão norte-americana que formulou diretrizes globais para o desenvolvimento econômico do pais (Missão Cooke), tendo como um dos resultados a assinatura, por Getulio Vargas, em 1º de junho de 1942, do decreto-lei No 4.352, que criou a Companhia Vale do Rio Doce. A nova empresa, constituída como uma sociedade anônima de economia mista, encampa as empresas de Farquhar e assume o controle da Estrada de Ferro Vitória a Minas, com o objetivo assegurar o suprimento estratégico de minério de ferro para a recém-criada Companhia Siderúrgica Nacional - CSN, bem como para dedicar-se à exportação de minério de ferro.

Em 11 de janeiro de 1942, reúne-se a Assembléia de constituição definitiva da Vale, que aprovou os estatutos da empresa fixando a sede administrativa em Itabira (MG) e o domicílio jurídico no Rio de Janeiro (RJ); nesta ocasião, Israel Pinheiro é nomeado o primeiro presidente da empresa.

Fontes: monografia de Elis da A. Miranda, XII-FIPAM-NAEA/UFPA, 1997 ("História, Diversificação e Espacialização da CVRD na Amazônia Oriental e sua importância ao Pará"), além dos sites CPDOC da FGV-Rio, da Vale e da Wikipedia (esta, mesmo não sendo considerada uma fonte científica, foi incluída pela abrangência das informações obtidas, que devem sempre ser confirmadas antes de citadas).