quarta-feira, 8 de julho de 2009

O que muda com a Pesquisa de Campo ? (Decifra-me ou eu mesma me devoro)

Acho q todo pesquisador já passou por isso. Um belo dia ele acorda com uma idéia e decide fazer um projeto de pesquisa. É provável que inconscientemente ele tenha maturado essa idéia por muito tempo. Define o tema e parte para a escritura dos objetivos, metodologias, justificativas, referências etc. Arma tudo direitinho, põe no papel, encontra um orientador que tope, acha um abrigo institucional (diga-se um programa de pós-graduação) e, quando tem sorte, consegue uma bolsa. Que felicidade!!! Sair do masmorra do trabalho controlado e poder pensar - além de ser pago por isso. Mas a alegria não dura muito, pois a partir do dia que o sujeito se atrela, junto com a alegria, vem duas assombrações de meter medo no mais cético dos ateus: o prazo e as exigências. E se o projeto prevê pesquisa de campo (no sentido mais empírico que esse termo possa ter) e ainda for da área de Humanas, aí é que a tarefa ganha muito em emoção. Pelo menos na área da comunicação, é utópico (pra não dizer balalea) essa coisa da observação isenta e distanciada. Mais do que cabeça, acho que o pesquisador precisa ter coração. Não é fácil sair do conforto (inclusive térmico) da biblioteca, para enfrentar estradas péssimas, temperaturas de mais de 40 graus, poeira, falta de conforto e insegurança. Por isso acho que o campo é o maior dos desafios. Ali, tudo o que se escreveu no papel, perde o sentido. E aquela idéia que achávamos maravilhosa quando acordamos naquele bendito dia, de repente se torna inócua. A realidade é e sempre será maior do que qualquer pesquisa - ainda bem. E no entanto, por mais sofrida que seja, é dela que vem toda a adrenalina e o risco maior é que nós, ao voltarmos para a nossa confortável biblioteca, não sejamos capazes de traduzir, minimamente que seja, a riqueza do visto e vivido, seja na folha de papel, seja num produto final multimidiático. Depois de sentir o calor e a poeira nas entranhas, olhar nos olhos das pessoas, chegar aos confins da Amazônia, de ver o monstro que é o Brasil real de frente, me pergunto se serei capaz (?) e se esta pesquisa será concluída com a dignidade necessária (?). A Amazônia, me disse um entrevistado, é uma esfinge às avessas, que parece desafiar o pesquisador ao dizer-lhe, entre irônica e sedutora - Decifra-me ou Devoro-me.

2 comentários:

  1. Concita,
    Que maravilha teu diário de viagem-pesquisa! Há muitas questões também levantadas na minha tese.O campo, muitas vezes, nos dá a dimensão da inutilidade de frescuras, métodos e metologias. Se v. não se predispuser a rever caminhos, não for sensível ao outro e incapaz do rapto da solidariedade, não há trabalho.
    Bjs, Bel

    ResponderExcluir
  2. Olá professora!

    Acho que dificilmente conseguirá fazer esta tradução, mas com muito talento poderá produzir algo que senbilize.

    Estou ansioso para conhecer o resultado final do seu trabalho.

    ResponderExcluir