Quem, no meio de uma pesquisa, não teve ímpetos de tudo queimar, rasgar, esquecer, fingir que aquilo nem começou, que atire a primeira pedra. Como fui atleta durante bons anos, sempre faço um paralelo entre uma pesquisa e uma partida de basquete. E sempre tenho muito medo do último 3/4 do jogo, ou seja, da reta final. Medo porque esse é o periodo de tempo quando não se tem mais o gás do início, nem o meio gás da metade do jogo. Às vezes, não se tem gás algum. É quando tudo já deixou de ser novidade. É quando vc já se deu conta de que suas idéias talvez se esgotem antes de o jogo acabar. Seu adversário cresce e fica imenso, no caso da pesquisa, toda a avalanche de informação do campo e de referências tão super hiper bem redigidas, algumas já canônicas, tendem a soterrar um pobre pensamento embrionário, que nasce capenga, frágil e sem tetas que o alimente. É preciso ser profundo, rigoroso, pertinente, original, de qualidade. Tem que se auto-afirmar nos congressos, papers, periódicos, livros. O pobre nem bem nasceu e já tem os 12 trabalhos de Hércules para superar. Daí o pensamento esmirrado, já que pensa, reflete que é melhor nem tentar... ai que preguiça! Mario de Andrade. E chega a rir do Descartes e de seu cogito, ergo sum. Já que tudo inventam nesses dias, podiam inventar anabolizantes para o pensamento. Assim ele queimaria etapas e logo seria laureado nos meios intelectuais mais inóspitos.
Mas sempre que entro nessas crises, volto a ler a Hannah. E é com alento que ela quase me sussura aos ouvidos. Pensar cansa, incomoda, dá trabalho, exaure. Mas nada, no plano intelectual, dá mais poder, sensação de prazer infinito do que você saber que foi capaz de pensar algo, e não algo sobre algo, mas pensar alguma coisa.
Então me deixo levar pelas linhas e entrelinhas de Hannah na esperança de que, mais uma vez, ela será o gás q vai fazer o pensamento embrionário sobreviver a mais um dia. Afinal o tempo urge e navegar é preciso, viver não é preciso.
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
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