quinta-feira, 4 de junho de 2009

O Outro Lado da Privatização da Vale

Entre 1969 e 1979, as vendas da CVRD ao exterior cresceram 285% e a empresa se consolidou como a maior exportadora de minério de ferro do mundo, posição que ocupa até hoje. Em 1985, colocou em operação o projeto Ferro Carajás, iniciando a exploração de reservas de 18 bilhões de toneladas de ferro no sul do Estado do Pará.

A História da Privatização
Em 1993, a Fundação Getúlio Vargas classificou a Vale como a primeira empresa no ranking nacional. Dois anos depois, em 1995, Fernando Henrique Cardoso incluiu a CVRD no Programa Nacional de Desestatização. Dois bancos estrangeiros avaliaram em R$ 10,36 bilhões as ações da CVRD, mas não consideraram o potencial das reservas minerais em poder da empresa. Embora sempre tivesse operado com balanço positivo, batendo seguidos recordes de produção e faturamento, a empresa foi privatizada em 7 de maio de 1997 pelo governo de FHC, tendo sido comprada por um consórcio liderado pela CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), que adquiriu 41,73% das ações ordinárias do governo federal por US$ 3,338 bilhões.

Resultado: este Consórcio Brasil, formado pela Companhia Siderúrgica Nacional, a Bradespar (do grupo Bradesco) e o fundo de investimentos Previ, arrematou 41,73% das ações por R$ 3,3 bilhões, o suficiente para assumir o controle da empresa. Ficou no ar a sensação de que foi um jogo de cartas marcadas.

Em 2003, a Vale apresentou o maior lucro líquido de sua história: R$ 4,5 bilhões, recuperando em um ano o valor pago no leilão de privatização. No mesmo ano, também houve um salto na desnacionalização da empresa, já que 67% dos negócios com as ações da Vale foram realizados na Bolsa de Nova York, contra 33% realizados no Brasil.

Também em janeiro de 2003, o valor da empresa superava a barreira dos US$ 100 bilhões. Em dez anos ele se multiplicou por dez, demonstrando que o preço do leilão foi inferior e o mercado fez o ajuste ao valor real.Ficou de fora do preço mínimo da empresa um conglomerado com cerca de 60 empresas, incluindo a infra-estrutura ferroviária, com nove mil quilômetros de malha ferroviária e vários terminais portuários. Também ficaram de fora do valor da Vale suas participações em empresas como Usiminas, Açominas, CSN e outras. Também não entrou na avaliação o grosso das reservas minerais da empresa. A CVRD informou à Comissão de Valores Mobiliários dos EUA, em 1995, números rebaixados das suas reservas totais de minério, com a intenção de diminuir o valor da empresa. As reservas totais de minério de ferro, ao invés de três bilhões de toneladas, alcançavam 19 bilhões de toneladas. As reservas de potássio, ao invés das quatro, eram de fato 19 milhões de toneladas. As reservas de manganês, ao invés das 30, eram na verdade 63 milhões de toneladas. As reservas de bauxita, ao invés das 197, eram de fato 303 milhões de toneladas.Sem considerar a produção de ouro, platina, cobalto, níquel, nióbio, quartzo, titânio, calcário, fosfato, zinco, cassiterita, entre outros, as reservas provadas da Vale teriam, nos preços de hoje, um valor aproximado de US$ 215 bilhões. Mas elas não foram computadas no valor da empresa quando privatizada.Por que os dois bancos responsáveis pela avaliação da CVRD, o Bradesco e o Merril Lynch, não incorporaram o valor total da CVRD? Muito simples: o Bradesco se tornou co-proprietário da Vale privatizada. É como colocar o lobo cuidando do galinheiro. Esta irregularidade já seria suficiente para anular o leilão de privatização da Vale. A lei de licitação para a venda da empresa define que não pode haver nenhum vínculo entre o avaliador e o comprador. O Bradesco era dono de 17,9% do capital votante da CSN, empresa que liderou a compra da Vale. O banco participou, a partir do ano 2000, do bloco controlador da Vale, através do Bradespar.

Passados quase dez anos, ainda hoje críticos insistem que a Vale foi vendida abaixo de seu valor real. Foi pedida a revogação do processo de privatização em mais de 100 ações, algumas ainda em trâmite na Justiça. As chances de vitória para os acusadores são consideradas mínimas por especialistas.


Autor: Nazareno Godeiro, de Belo Horizonte (MG).
Fonte: jornal Opinião Socialista do PSTU (Partido Socialistas dos Trabalhadores Unificado). Edição nº 310 De 16 a 22 de agosto de 2007
(http://www.pstu.org.br/jornal_materia.asp?id=7261&ida=0)

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