Esse mês de julho tem sido um hiato na pesquisa. Depois da viagem a campo e das entrevistas, a burocracia e as demandas paralelas me tiraram da rotina da leitura e escrita. Agora sinto a necessidade de escrever. Mas por onde começar? Por mais que já tenha começado inúmeras vezes, o fato é que o pensamento já tem dificuldade de um fôlego maior. Consigo pensar em drops, quase cápsulas, talvez por vício profissional (publicitário pensa em 30 segundos, pelo menos até a minha geração), mas dificilmente em 30 páginas. Não sei ao certo como consegui produzir as mais de 200 da tese de doutorado e os artigos que vieram depois. Acho que há um espírito da escritura, que sempre vem e nos arrebata em algum momento, e aí a coisa deslancha.
Mas e até lá? por onde começar? Quando não há rumo, não há bússola, não há espíritos. Há vc e a tela em branco, e vc é um sujeito oprimido por tantas idéias já pensadas, mas parece que nenhuma passa no furo mínimo da agulha do cérebro para chegar na ponta dos dedos e se materializar em letras, palavras, frases e conhecimento. Que devem ter nexo, profundidade, rigor, precisão, isso tudo ou correm o risco do não terem o selo "científico". Mart'nália canta agora no rádio que é "inútil se tentar fugir da longa estrada", e como fiz semiótica, leio os sinais.
Começo então com um cara que tem me inspirado muito ultimamente, o Celso Furtado e um trecho que tinha separado para ser uma provável epígrafe. Celso diz na página 15 do seu genial o mito do desenvolvimento econômico: "os mitos tem exercido inegável influência sobre a mente dos homens que se empenham em compreender a realidade social. ... O mito congrega um conjunto de hipóteses que não pode ser testado. ... Assim os mitos operam como faróis que iluminam o campo de percepção do cientista social". Faróis, quais faróis? Me vem que prefiro Pentecostes à Torre de Babel. À parte o messianismo, a moral da história das labaredas de fogo que falam línguas desconhecidas e, contudo, fazem todos se entender e entrar na mesma sintonia me seduz. Esse mito me interessa menos como uma estratégia de evangelização, e mais pelo ato em si, pelas línguas em fogo que podem até queimar e virar cinza, mas antes, podem, pela palavra, se expressar, discutir e gestar um novo tempo para a Amazônia. (Foto de lu_bezerra, "Pentecostes")
quarta-feira, 29 de julho de 2009
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