quinta-feira, 17 de setembro de 2009
A capacitação: ação sustentável sim.
Tudo aquilo que Hannah Arendt nos falava dos oimoi foi o que encontrei ontem em plena zona rural de Parauapebas. Na área da APA do Igarapé Gelado, que é administrado pelo Instituto Chico Mendes do IBAMA, habitam colonos que para cá vieram sobretudo na década de 80, a maioria vinda de Curionópolis para plantar. São agricultores que têm uma longa história de relação com a Vale, com quem já tiveram todo tipo de conflito. Hoje, a Vale construiu a Estação do Conhecimento, que é um projeto educacional voltado para o mundo rural, que inclui a criação de uma OSCIP e de uma Cooperativa de forma a que a comunidade se aproprie de técnicas agrícolas e pecuárias de ponta para aumentar a produção e organziar a comercialização do excedente, pois idéia é fazer uma agricultura familiar comercial. Mas nada disso é possivel sem a mobilização das pessoas, e nesses três dias está havendo essa atividade que é ministrada por dois coordenadores do instituto Fonte de São Paulo, para funcionários e diretores da Vale, técnicos e gestores da Estação, alguns consultores (da Diagonal de São Paulo) e para a comunidade da APA, muitos associados a APROAPA (a maioria dos participantes). Uma das atividades que mais me tocou foi quando o Tião, um dos coordenadores, incentivou todos ali presentes a contarem a história daquela comunidade, e foi incrível ver os mais antigos da Vale e da Comunidade contarem uma história de luta, sangue e coragem de apropriação do território - uma história que não está nos livros nem nos meios de comunicação. A luta por transformá-lo em APA - Área de Poteção Ambiental, e como um dia a Vale já foi truculenta na relação com a comunidade e como hoje ela mudou. Cheguei a registrar em foto esse momento que, pra mim, foi o mais significativo até aqui dessa relação. A Estação tem tudo para ser uma referência de projeto sustentável não porque tenha preocupação ambiental, produtiva ou social meramente, mas porque, sobretudo, coloca a comunidade no mesmo patamar decisório da Vale e da prefeitura. Porque fomenta um protagonismo que não é fácil de ser fomentado, mas a experiência e a inicativa que ali vi, de pessoas que um dia estavam de lados opostos, hoje podem participar da mesma conversa, discutindo e decidindo juntos, entre iguais, quais rumos o coletivo deve tomar, é sem dúvida, uma experiênca que eu diria inédita. Como afirma a Izabel, a APA não é a Atenas, e a Estação não é a Agora, mas nesses 3 dias, acho q ela chegou perto, e acho que a Hannah ia amar viver essa experiência que tive o privilégio de participar. E ainda teve o almoço delicioso na cabana, com todos os participantes.
Só para dar um pingo no i: ontem a governadora Ana Julia esteve aqui, inaugurando uma escola e algumas outras obras. Perguntei para alguns da comunidade o que eles falariam com a governadora, e eles (todos) disseram que ela deveria apoiar projetos como o da Estação porque ali sim eles viam o resultado concreto para a vida deles. Se há uma perspectiva que considera as ações de sustentabilidade mais uma forma de dominação simbólica das empresas, acho que a experiência da Estação é um caso mais complexo do que isso porque ali há um espaço democrático que visa ao protagonismo da comunidade.
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As mulheres da Estação em Parauapebas não tomam whisky com os executivos da Vale, mas também decidem com os homens em pé de igualdade. A democracia não é um favorecimento do Estado, das empresas, mas de todos os agentes dinâmicos da sociedade que no processo de tensão/negociação inventam sua sociabilidade sustentável.
ResponderExcluirSílvio di Sant'Anna