domingo, 15 de novembro de 2009

Quase um mês sem postar e a pergunta permanece: desenvolvimento?

Uma leitura particular de O Mito do Desenvolvimento Econômico, de Celso Furtado.
Diariamente ao lermos os jornais nos deparamos constantemente com a tal expressão: “Desenvolvimento Econômico”. Tanto a mídia impressa como a eletrônica, acabaram por incluir em nosso vocabulário tal expressão que atualmente mais parece um jargão popular, mas o que é de fato essa expressão que serve tanto de propaganda para o governo federal, como de tema de discussão entre as mais variadas classes de profissionais e a população em geral? Será que realmente o Brasil segue o rumo ao pleno Desenvolvimento Econômico?

Segundo o Dicionário Houaiss, o significado da palavra “Desenvolvimento” é: aumento da capacidade ou das possibilidades de algo; crescimento, progresso, etc. Sob a visão econômica encontramos também a seguinte definição: crescimento econômico, social e político de um país, região, comunidade etc. Já a palavra “Mito” encontrada no mesmo dicionário significa: relato fantástico de tradição oral, sob forma simbólica, lenda, fábula, mitologia. E agora em qual dessas definições estamos apoiando nossas idéias para seguirmos rumo ao nosso idealizado progresso?
É valido lembrar que na prática modifica-se “um pouco” o significado de tal palavra. Atualmente convencionou-se chamar de desenvolvimento econômico, a capacidade de buscar o padrão de consumo dos países desenvolvidos (ricos), ou seja, a idéia que tal processo trará aos povos em
desenvolvimentos (emergentes ou pobres) a possibilidade de que algum dia, os mesmos desfrutarão dos modos de vida dos atuais povos ricos, porém isso será uma realidade?
Nos dias atuais este processo rumo ao progresso com certeza é reduzido a categoria de mito, pois basta pensarmos nos reais propósitos da louvação dada a este desenvolvimento.

A idéia de desenvolvimento econômico passou a ser a seguida e reproduzida como uma meta após a evolução do capitalismo globalizado juntamente com a invasão do mercado financeiro nos sistemas econômicos nacionais e, conseqüentemente, com o aumento do protecionismo a certos
setores econômicos. Os níveis de consumo que prevalecem atualmente nos paises do norte
não têm cabimento dentro das possibilidades evolutivas reais desse sistema. O guia geral do processo de desenvolvimento é a busca constante pela elevação do nível de consumo das populações, porém os efeitos diretos e indiretos gerados por tal elevação, como a poluição e a pressão sobre os recursos naturais, provocariam um colapso na economia mundial.
Além disso, o modelo utilizado para projetar a economia mundial chega a ser irreal, uma vez que não leva em conta os efeitos de longo prazo. A estrutura deste modelo é a adotada pelos países que lideram a economia mundial, sendo assim, obter um padrão de vida moderno passou a significar acumulação de capital e facilidade de acesso aos bens finais.
O produto desta crescente acumulação e intensificação do comercio internacional é o aumento exponencial da produtividade, esta que por sua vez aumenta o fluxo de excedentes, que acabam por serem utilizados para maior acumulação geográfica de capital e capacidade de consumo.
Através das reformas industriais ocorridas no sistema capitalista no último quarto de século as empresas norte-americanas eram as que possuíam melhores condições para aproveitar as novas oportunidades criadas. Com isso as relações com a os paises centrais (países do norte) se tornaram assimétricas ao longo dos tempos e a expansão do sistema, iniciada pelos
mesmos, passou a depender cada vez mais do acesso às fontes desses recursos, localizadas em paises periféricos.
A idéia de desenvolvimento econômico foi utilizada para explicar e fazer compreender a necessidade de destruir o meio físico, para justificar as formas de dependência que reforçam o caráter predatório do sistema produtivo. Desta forma quando um governo atinge metas de desenvolvimento econômico ele tem seu nível de aprovação multiplicado e suas atrocidades sócio-ambientais (normalmente realizadas para atender a tal processo de crescimento
econômico) são “esquecidas”. É como se todo este sacrifício viesse por uma causa justa!
Graças a essa idéia é possível desviar a atenção da tarefa básica de identificação das necessidades fundamentais da coletividade e das possibilidades que abrem ao homem o avanço da ciência, para concentrá-las em objetivos abstratos, como são os investimentos, as exportações e o crescimento. Este mito é um dos pilares da doutrina que serve de cobertura à dominação dos povos dos países periféricos dentro da nova estrutura do sistema capitalista.

A COP-15 de Copenhagen está aí para tentar articular outros paradigmas sociais e econômicos para os países. Dados recentes publicados pela Organização Não Governamental WWF, em seu relatório anual sobre a vida no planeta (Living Planet Report 2002), deixam claras as evidencias dessa busca incessante pelo desenvolvimento econômico de vários paises, e seus conseqüentes resultados no meio ambiente. Segundo o relatório em menos de 30 anos a biodiversidade de espécies terrestre diminuiu cerca de 15%, e a de água doce em aproximadamente 55%.
A estimativa para o número de pessoas para 2050 é de 9 bilhões, neste contexto projeções realizadas pela ONG, estima-se que a emissão de gás carbônico (CO2) passará dos atuais 11,7 bilhões de toneladas para aproximadamente 16 bilhões de toneladas por ano. O consumo de cereais ainda irá crescer cerca de 66%, os de produtos florestais cerca de 120% e o de carne e peixe em torno de 130% até 2050.
É evidente que o ecossistema não irá suportar a demanda por recursos naturais e consequentemente o sustento do continuo crescimento econômico e populacional no planeta.
Perante esses dados fica evidente que cada vez mais a busca pelo desenvolvimento econômico, nos moldes atuais, torna-se muito mais um mito do que uma realidade.
Segue com uma análise simplificada do que ocorre em nosso país, que é o exemplo dentre os vários países da atual busca deste “desenvolvimento”. Nosso crescimento econômico é baseado nos produtos agropecuários, ou seja, nossos recursos naturais. Nosso maior patrimônio é explorado e destruído em grande escala, a fim de ser vendido a preços definidos por outros mercados. O crescimento econômico gerado fica concentrado nas mãos de poucos,
aumentando ainda mais a nossa desigualdade interna. O governo usa a imagem de tal crescimento como sua principal propaganda e assim consegue aprovar leis de seu interesse, que muitas vezes vão contra muitos dos princípios básicos da boa ética governamental. Enquanto o povo por sua vez, olha esperançoso acreditando que tempos melhores virão. Acreditamos com certeza que este tempo virá, mas não desta forma. Não buscando a qualquer custo em um mito a possível solução para a realidade.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Desenvolvimento??? Sustentável???

Quem, no meio de uma pesquisa, não teve ímpetos de tudo queimar, rasgar, esquecer, fingir que aquilo nem começou, que atire a primeira pedra. Como fui atleta durante bons anos, sempre faço um paralelo entre uma pesquisa e uma partida de basquete. E sempre tenho muito medo do último 3/4 do jogo, ou seja, da reta final. Medo porque esse é o periodo de tempo quando não se tem mais o gás do início, nem o meio gás da metade do jogo. Às vezes, não se tem gás algum. É quando tudo já deixou de ser novidade. É quando vc já se deu conta de que suas idéias talvez se esgotem antes de o jogo acabar. Seu adversário cresce e fica imenso, no caso da pesquisa, toda a avalanche de informação do campo e de referências tão super hiper bem redigidas, algumas já canônicas, tendem a soterrar um pobre pensamento embrionário, que nasce capenga, frágil e sem tetas que o alimente. É preciso ser profundo, rigoroso, pertinente, original, de qualidade. Tem que se auto-afirmar nos congressos, papers, periódicos, livros. O pobre nem bem nasceu e já tem os 12 trabalhos de Hércules para superar. Daí o pensamento esmirrado, já que pensa, reflete que é melhor nem tentar... ai que preguiça! Mario de Andrade. E chega a rir do Descartes e de seu cogito, ergo sum. Já que tudo inventam nesses dias, podiam inventar anabolizantes para o pensamento. Assim ele queimaria etapas e logo seria laureado nos meios intelectuais mais inóspitos.
Mas sempre que entro nessas crises, volto a ler a Hannah. E é com alento que ela quase me sussura aos ouvidos. Pensar cansa, incomoda, dá trabalho, exaure. Mas nada, no plano intelectual, dá mais poder, sensação de prazer infinito do que você saber que foi capaz de pensar algo, e não algo sobre algo, mas pensar alguma coisa.
Então me deixo levar pelas linhas e entrelinhas de Hannah na esperança de que, mais uma vez, ela será o gás q vai fazer o pensamento embrionário sobreviver a mais um dia. Afinal o tempo urge e navegar é preciso, viver não é preciso.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Mediação: em busca de um conceito

Segundo o dicionário Houaiss, mediação é um substantivo feminino que significa o ato ou efeito de mediar, ou seja, o ato de servir de intermediário entre pessoas, grupos, partidos, facções, países etc., a fim de dirimir divergências ou disputas; arbitragem, conciliação, intervenção, intermédio. E cita como exemplo: m. entre gregos e troianos. Etimologicamente, a palavra vem de do latim mediatìo,ónis que significava intercessão, interposição, intervenção (ver medi(o). Há ainda as acepções específicas do termo aplicáveis a áreas diversas como diplomacia, comércio, filosofia, psicologia, religião, música, ciências jurídicas e até astronáutica. De todas, interessa-nos a acepção comercial - ato de agir como intermediário entre comprador e vendedor; corretagem; e a acepção jurídica, de um procedimento que visa à composição de um litígio, de forma não autoritária, pela interposição de um intermediário entre as partes em conflito.

Mediação é diferente de Arbitragem
Esse conceito vem sendo cada vez mais debatido e pesquisado no meio jurídico em virtude do aumento do volume de conflitos em todas as áreas do direito civil.
A mediação é um meio alternativo de solução de controvérsias, litígios e impasses, onde um terceiro, imparcial, de confiança das partes (pessoas físicas ou jurídicas), por elas livre e voluntariamente escolhido, intervém entre elas (partes) agindo como um “facilitador”, um catalisador, que usando de habilidade e arte, leva as partes a encontrarem a solução para as suas pendências. Portanto, o Mediador não decide; quem decide são as partes. O Mediador apenas utilizando habilidade e as técnicas da “arte de mediar”, leva as partes a decidirem.
É importante diferenciar mediação de arbitragem.
Na Mediação as partes têm total controle sobre a situação, diferentemente da Arbitragem, onde o controle é exercido pelo Árbitro. O Mediador é um profissional treinado, qualificado, e que deve conhecer bem o universo das negociações e dos negociadores.

Mediações: conceito basilar da área da comunicação

No Brasil e na América Latina um autor está intimamente ligado ao conceito de Mediação, ou Mediações: Jesús-Martin Barbero. Em seu livro
Dos meios às mediações, hoje já um clássico dos estudos culturais e da área da comunicação, "Martin-Barbero propõe, através da incorporação do conceito de hegemonia de Gramsci, a descentralização da observação dos meios como aparatos técnicos para estender o olhar até a experiência da vida cotidiana. Entendendo a comunicação como práticas sociais, o autor utiliza o conceito de mediação como a categoria que liga a comunicação à cultura. As mediações são os lugares que estão entre a produção e a recepção. Pensar a comunicação sob a perspectiva das mediações significa entender que entre a produção e
a recepção há um espaço em que a cultura cotidiana se concretiza. Martín-Barbero (1987, p. 233) sugere três lugares de mediação que interferem e alteram a maneira como os receptores recebem os conteúdos midiáticos. São eles: a cotidianidade familiar, a temporalidade social e a competência cultural.
A cotidianidade é o espaço em que as pessoas se confrontam e mostram como verdadeiramente são, através das relações sociais e da interação dos indivíduos com as instituições. A cotidianidade familiar é uma das mais importantes mediações para a recepção dos meios de comunicação, pois a família representa um lugar de conflitos e tensões que, reproduzindo as relações de poder da sociedade, faz com que os indivíduos manifestem seus anseios e inquietações.
A temporalidade social contrapõe o tempo do cotidiano ao tempo produtivo. Este é o tempo valorizado pelo capital, o que se mede. Aquele é o tempo repetitivo. Para Martín-Barbero (1987, p. 236), a televisão também é organizada pelo tempo da repetição e do fragmento, incorporando-se assim ao cotidiano dos receptores.
Por último, a competência cultural “é entendida como resultante do habitus de classe e relacionada a questões étnicas e de gênero” (RONSINI, 2007, p. 42). Essa mediação diz respeito a toda vivência cultural que o indivíduo adquire ao longo da vida, não apenas através da educação formal, mas por meio das experiências adquiridas em seu cotidiano".

" " Trecho completo retirado do artigo "A Perspectiva das Mediações de Jesús Martín-Barbero no Estudo de Recepção da Telenovela", de Laura Hastenpflug WOTTRICH, Renata Córdova da SILVA, Veneza V. Mayora RONSINI. Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS. Acessivel no site da Intercom: http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2009/resumos/R4-1712-1.pdf

Referências:
HOUAISS, Antonio. Dicionario da Língua Portuguesa.
MARTÍN-BARBERO, Jesús. De los medios a las mediaciones. Barcelona: Gustavo Gili, 1987.
RONSINI, Veneza V. Mayora. Mercadores de sentido: consumo de mídia e identidades
juvenis. Porto Alegre: Sulina, 2007.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

O retorno a São Paulo

Depois de 10 meses direto em Belém e interior do Pará realizando a pesquisa de campo, chega a hora de retornar a São Paulo. Sair do umbigo revivido do convívio com a familia, do reencontro com os lugares da memória, os amigos de infância e do calor úmido tão conhecidos, para voltar a selva do concreto sempre desconhecida para um estrangeiro e para seus fluxos vertiginosos me faz lembrar o flâneur baudelairiano às avessas.

Me dá um misto de vazio e ansiedade pelo que virá. No fundo sei que todo meu corpo sente a mudança e tenta se readaptar. Sinto meu coração se acelerar, a respiração mais ofegante, a mão mais ágil e trêmula. Em 24 h, o corpo todo parece acelerar depois da hibernação amazônica. Tudo o que vi e vivi lá de repente assume outro contexto aqui. E sei que esse distanciamento é necessário para eu poder escrever com a máxima independência possivel.

Fui me despedindo aos poucos, e corooei esse tempo com a participação no Cirio, que é uma experiência que vai muito além da religião. Foi como tomar um choque de energia emanada daquelas 2 milhões de pessoas. Agora é voltar para a terra de quase 20 milhões de pessoas e tentar reencontrar meu lugar aqui. Devo voltar ainda a Belém e talvez a Parauapebas, de passagem, pois ainda há dados a recolher.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

A viagem de volta pra Belém

Passei duas semanas em Parauapebas, intercaladas por uma semana em Belém. No dia 18 de setembro percebi que seria melhor deixar meu carro em Parauapebas e voltar pra Belém de avião pois o aluguel de um carro por uma semana sairia muito caro. No sábado, dia 19/9, fomos de carro, Ana, Isaias e eu até Marabá. De lá, peguei um vôo da TAM para Belém. Durante a semana, mesmo estranhando um pouco o fato de estar sem carro, pude voltar a sede da Vale para aprofundar alguns dads que havia observado no campo e retomar meu diálogo com o Antonio Venâncio. Também pude aprofundar a pesquisa na SUDAM. Depois desses encontros, retornei a Parauapebas, desta vez por meio de um vôo da TRIP com destino a Carajás no dia 25/9. Foi uma experiência ver o lago imenso da barragem de Tucurí (escala do vôo) de cima, e perceber a imensidão de sua devastação, com suas ilhas semi encobertas. Depois a chegada a Carajás é também impactante pela visão da Flona e do núcleo urbano de cima. Passei uma semana em Peba realizando as últimas entrevstas da pesquisa e os comentários sobre ela estarão no próximo post. Vou pular então para a viagem de volta. Como não havia com quem dividir a direção, voltei sozinha dirigindo. Saí de Parauapebas na quinta, dia 1/10, e passei por Curionópolis, Eldorado, Vila Betel, Vila Sororó, chegando a Marabá por volta das 17h, onde dormi e fiquei feliz pois a net da claro voltou a funcionar já que em Peba não pega. No dia 2/10, sexta, saí de Marabá às 7h30 da manhã, e passei por Nova Ipixuna, Jacundá (pior trecho da estrada), Goianésia, Vila Aparecida, Vila Genésio, Víla Águas Claras, Tailândia, Vila Nova Betel, Vila do Açu, Palmares, VIla Olho d'Água, Betânia e as entradas das cidades de Moju, Abaetetuba e Barcarena, até chegar a Belém por volta das 15h00 da tarde e 540 km rodados. Estava com o corpo doído mas graças a Deus, tudo ocorreu bem na viagem, e o meu carro mais uma vez se mostrou um ótimo companheiro de viagem ao som de muita MPB e das rádios locais.

Ilhas da Represa de Tucuruí vistas de cima


Núcleo Urbano rodeado pela FLONA - Floresta Nacional de Carajás

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Os desafios da pesquisa de campo

O maior desafio que tenho enfrentado na pesquisa de campo não são a distância de Parauapebas em relação a Belém, as más condições das estradas, o desconforto do desconhecido, ou mesmo a dificuldade em conseguir contactar as pessoas e agendar as entrevistas. Diria que a maior dificuldade reside em encontrar o viés correto, o posicionamento que não crie expectativas equivocadas junto aos entrevistados com relação a pesquisa. Como não acredito na neutralidade nem na total isenção do pesquisador, e ao já ter conversado com inúmeras pessoas, de diferentes origens sociais, representações institucionais e posicionamentos políticos, tenho me movido por uma linha tênue e extremamente difícil de opiniões muito divergentes a respeito da mesma situação. Acho q vim mexer em casa de marimbondo e a chance de sair machucada disso é grande. Por nunca ter me filiado a partidos políticos ou grupos institucionalizados dentro ou fora da universidade, hoje me questiono se o preço a pagar por tanta independência não será alto demais. Apenas uma coisa vai ficando clara para mim. Sobre o tema de minha pesquisa, não há uma única e pura verdade. Há os fatos, mas mesmo esses não deixam de ser uma construção signica, uma representação social - daí certa desconfiança minha com a estatística. Percebo que o caminho da razoabilidade, que entendo como a racionalidade com bom senso, pode ser a minha única chance de realizar uma pesquisa não dogmática ou ideologizada. Como espero terminar o campo até quinta no máxima, espero ter essas questões mais claras no próximo post.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Nova campanha da Vale é uma resposta a Lula

Justamente quando a mídia divulga uma certa "insatisfação" do presidente Lula com a postura da Vale durante a crise, por ter reduzido investimentos e ter demitido funcionários, não apenas o presidente da Vale, Roger Agnelli, foi a Brasilia conversar com o presidente, como lançou a campanha "Nuvens" em horário nobre da TV aberta. Em tom ufanista com a trilha da marchinha de Paulo Soledad "Estão voltando as flores", o comercial mostra os próximos investimentos da companhia e os empregos a serem gerados, uma espécie de resposta pública ao presidente, o que não deixa também de ser uma demonstração de força da cia.

Porto e Ferrovia


Siderúrgicas:


Navios:


Investimentos:

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

A chegada do trem da Vale




Entre ontem e hoje, exatamente a meia noite, onde eu estava? Esperando o trem da Vale chegar à estação ferroviária de Parauapebas. Eu e meus fiéis escudeiros, Cristiane e Isaias, estávamos com máquinas em punho para registrar esse momento. E a meia noite em ponto o bicho apontou com sua lanterna redonda e seu som característico - Peeeemmmm!

A estação está lotada de pessoas esperando. No estacionamento muitos carros e vans, inclusive um ônibus de grande porte da Transbrasiliana que levaria os seus passageiros para a Serra. Aos poucos os passageiros começam a descer, e e a fila vai adensando e vai crescendo, vai crescendo e é dificil não imaginar para onde toda aquela gente vai. Chegam muitas familias que não parecem migrantes mas pessoas que vieram visitar parentes, mas há tb muitos homens desacompanhados e esses sim, parecem ter vindo em busca de emprego e vida nova. Começa a gritaria dos meninos das vans, que berram seus destinos e tentam arrebanhar o máximo de clientes possiveis. E pelo número de vans que iam para Canaã, percebe-se que agora é para lá que se dirige esse fluxo migratório.

De onde essas pessoas vem? Para onde vão? Quem são elas? Quais história de vida por ali passaram? Foi uma experiência impactante ver esse desembarque e perceber que, em menos de 20 minutos, a estação já estava quase vazia, de volta ao silêncio da espera pelo próximo trem. Tudo muito rápido, como funcionam as coisas por aqui: o tempo de Parauapebas, em sua velocidade nervosa, me faz questionar se realmente vi e vivi aquilo ou foi apenas um sonho de uma noite estrelada.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A capacitação: ação sustentável sim.






Tudo aquilo que Hannah Arendt nos falava dos oimoi foi o que encontrei ontem em plena zona rural de Parauapebas. Na área da APA do Igarapé Gelado, que é administrado pelo Instituto Chico Mendes do IBAMA, habitam colonos que para cá vieram sobretudo na década de 80, a maioria vinda de Curionópolis para plantar. São agricultores que têm uma longa história de relação com a Vale, com quem já tiveram todo tipo de conflito. Hoje, a Vale construiu a Estação do Conhecimento, que é um projeto educacional voltado para o mundo rural, que inclui a criação de uma OSCIP e de uma Cooperativa de forma a que a comunidade se aproprie de técnicas agrícolas e pecuárias de ponta para aumentar a produção e organziar a comercialização do excedente, pois idéia é fazer uma agricultura familiar comercial. Mas nada disso é possivel sem a mobilização das pessoas, e nesses três dias está havendo essa atividade que é ministrada por dois coordenadores do instituto Fonte de São Paulo, para funcionários e diretores da Vale, técnicos e gestores da Estação, alguns consultores (da Diagonal de São Paulo) e para a comunidade da APA, muitos associados a APROAPA (a maioria dos participantes). Uma das atividades que mais me tocou foi quando o Tião, um dos coordenadores, incentivou todos ali presentes a contarem a história daquela comunidade, e foi incrível ver os mais antigos da Vale e da Comunidade contarem uma história de luta, sangue e coragem de apropriação do território - uma história que não está nos livros nem nos meios de comunicação. A luta por transformá-lo em APA - Área de Poteção Ambiental, e como um dia a Vale já foi truculenta na relação com a comunidade e como hoje ela mudou. Cheguei a registrar em foto esse momento que, pra mim, foi o mais significativo até aqui dessa relação. A Estação tem tudo para ser uma referência de projeto sustentável não porque tenha preocupação ambiental, produtiva ou social meramente, mas porque, sobretudo, coloca a comunidade no mesmo patamar decisório da Vale e da prefeitura. Porque fomenta um protagonismo que não é fácil de ser fomentado, mas a experiência e a inicativa que ali vi, de pessoas que um dia estavam de lados opostos, hoje podem participar da mesma conversa, discutindo e decidindo juntos, entre iguais, quais rumos o coletivo deve tomar, é sem dúvida, uma experiênca que eu diria inédita. Como afirma a Izabel, a APA não é a Atenas, e a Estação não é a Agora, mas nesses 3 dias, acho q ela chegou perto, e acho que a Hannah ia amar viver essa experiência que tive o privilégio de participar. E ainda teve o almoço delicioso na cabana, com todos os participantes.

Só para dar um pingo no i: ontem a governadora Ana Julia esteve aqui, inaugurando uma escola e algumas outras obras. Perguntei para alguns da comunidade o que eles falariam com a governadora, e eles (todos) disseram que ela deveria apoiar projetos como o da Estação porque ali sim eles viam o resultado concreto para a vida deles. Se há uma perspectiva que considera as ações de sustentabilidade mais uma forma de dominação simbólica das empresas, acho que a experiência da Estação é um caso mais complexo do que isso porque ali há um espaço democrático que visa ao protagonismo da comunidade.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

A semana em Parauapebas

A semana começou bem. Na segunda de manhã, entrevistei uma enfermeira da secretaria municipal de saúde que participou de uma capacitação do Vale Juventude. À tarde, fui buscar o Antonio Venâncio da Fundação Vale no aeroporto e de lá, fomos direto pra sede da Fundação no Núcleo de Carajás, onde encontramos o João Elias, e os dois me contaram boa parte da história dos projetos sociais da Vale. Conversamos durante algumas horas e foi muito bom tb porque pedi para acompanhar a capacitação que aconteceria no dia seguinte na APA do Gelado e eles deram ok. Na terça, fui encontrá-los na Estação do Conhecimento de lá. Saí cedo de casa pq sabia q a estrada seria uma pedreira, e foi. Errei o caminho e andei quase 40 km em estrada de terra a mais. Depois, me reencontrei e achei o lugar, depois de engolir muita terra e passar algum medo pois estava sozinha em estradas vicinais que não são exatamente seguras. Se eu reclamava do meu carro naquele dia da viagem, hj não tenho palavras. Ele tá uma poeira só: de preto, tá vermelho cor de barro. Hoje a saga continua...

terça-feira, 15 de setembro de 2009

A Viagem Marabá-Parauapebas







Saí cedo, por volta das 7h30, de Marabá. Antes, parei no Posto do Bolinha para abastecer e percebi um fila imensa. Um moto taxista me informa que não há energia e que alguém teria ido ligar um gerador em algum lugar. E, como por milagre, 5 minutos depois, eles voltam a abastecer pq o gerador foi ligado em algum lugar... Aí, vou tentar pagar com o MasterCard e eles me dizem que só o Visa pq os hackers da Marabá são os mais perigosos do mundo e eles clonaram vários cartões. Com um pouco de receio, paguei com o Visa e saí da Cidade Nova rumo a PA-275 (já me sinto em casa em Marabá). Deixo a cidade sem energia, mas não às escuras porque o sol das 8 da manhã já dá claridade de meio dia. A estrada está pior do que em junho, mais buracos, crateras mesmo, e pontes terriveis. Apenas no trecho entre a entrada de Serra Pelada, Curionópolis e até perto de Eldorado dos Carajás, vc vê q eles cobriram com um asfalto meia boca alguns buracos (acho que algum político deve ter passado por lá). Decidi então vir bem mais devagar, no máximo 100km/h pois meu carro tava de dar dó, de tanta poeira e buraco. Perto de Paruapebas, 3 pontes, na verdade desvios, parecem que se tornarão o temporário-permanente, ou seja, a gambiarra institucionalizada de um governo estadual também capenga. Quando começou a se delinear a serra de Carjás no horizonte, senti que me aproximava do santa graal do capital globalizado. A riqueza que essa serra esconde em suas profundezas é o principal motivo que fez muitas das pessoas virem pra cá, viver e ganhar a vida. Enfim, por volta das 11h30 chego a Paruapebas e , qual supresa?, aqui também não havia energia. Venho direto pro condomínio onde mora minha prima, que me dará pouso esses dias. Domingo almoçamos um ótimo macarrão que ela fez e à noite fomos ao centro espírita para uma palestra. Trata-se de um lugar muito humilde mas onde me sinto muito bem, e foi ótimo ouvir as palavras do evangelho. No próximo post, conto um pouco da trajetória aqui em Pebas.
Peço desculpas por não postar imagens mas esqueci o cabo de minha máquina em Belém. Assim q voltar, vou inserir as imagens.

sábado, 12 de setembro de 2009

Começa a 2a Viagem



Saí de Belém às 7h da manhã, rumo a Marabá, onde cheguei por volta das 14h45 depois de 550km rodados. Chegar a casa da Zelza é sempre um bálsamo considerando essa viagem. Não é tanto a distância, embora seja longe, mas a estrada que não conheço tão bem, e que é bem perigosa. Na saída de Belém, uma parada em Ananindeua pra pegar umas encomendas pra Zelza. Como não havia muito trânsito na saída da cidade, às 7h40 já estava pegando a Alça Viária, onde passei pelas pontes que cortam os rios Guamá, Moju e Acará. Parei por volta das 9h na entrada do Moju. A primeira etapa da viagem, que vai até Tailândia, demora umas 3h. Ali parei novamente para abastecer (R$ 80 reais meio tanque) e ir ao banheiro. É um posto da Texaco onde sempre param muitos caminhões . O trecho entre o Moju e Tailândia, q é um município enorme, é de transição geográfica e cultural. A paisagem muda, os costume e hábitos também. A cobertura vegetal paulatinamente dá lugar ao mar de fazendas contiguas, de capim queimado nessa época do ano, entremeadas por uma extensa plantação de palmas de dendê. Depois de Tailândia, vem mais uns 160 km até Jacundá, passando por Goianésia cujo slogan da cidade chega a ser irônico “transformando sonho em realidade” (só se for pesadelo). Começa um planalto com subidas e decidas e a estrada vai piorando muito em buracos e desníveis. Perdi uma calota num deles. O fato é que parei novamente em Jacundá, onde peguei um lanche e vim comendo no carro. O pior trecho da estrada sem dúvida é entre Jacundá e Ipixuna – ninguém merece e confesso que fiquei com pena do meu carro e com medo de algo acontecer. Ao passar Ipixuna, percebo q a estrada melhora e fico feliz pq apenas 40 minutos me separavam de Marabá. Acertei entrar na cidade e vir direto para a casa de minha prima, que fica na Cidade Nova. Agora é descansar para amanhã pegar a parte mais delicada da estrada que liga Marabá a Parauapebas.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Reflexão sobre o Mercado

O mercado é geralmente abordado em trabalhos acadêmicos como uma esfera uníssona, idealizado como o espaço de trocas atomizadas e meramente interessado em negociatas lucrativas. Esta pesquisa pretende abordar o mercado como um objeto multifacetado que demanda um olhar à história e à conjuntura que o engendra. Se a racionalidade do mercado é de outra ordem da racionalidade teórica reflexiva, e se os atores, os métodos e os fins mesmos de uma e de outra diferem, somente o enfrentamento da questão permitirá a elaboração de hipóteses sobre os limites da diferença. Talvez o maior desafio metodológico de um trabalho que tem a empresa Vale e seu discurso e prática da sustentabilidade por objeto seja o de testar a possibilidade do uso de paradigmas e instrumental mercadológico para pensá-la teoricamente, comprovando que não se tratam de raciocínios tão distintos que não possam ser acionados conjuntamente para efeito de uma análise.

(...)

Se olharmos de fora, o setor minerador e, especialmente, a Vale não podem ser sintetizados em uma única representação mental, seja imagética, seja discursiva, e talvez apenas a imagem da mina seja a mais mnemônica, posto que não há uma representação mais constante como, por exemplo, a tem a Petrobrás e suas recorrentes imagens das plataformas petrolíferas em alto mar ou seu majestoso prédio-sede no centro do Rio de Janeiro. A Vale, ao contrário, parece não querer divulgar ou cristalizar uma imagem da sede, do núcleo urbano ou da mina de Carajás pois é como se um dos paradigmas de sua comunicação seja justamente a sua pulverização imagética. Essa intencionalidade se deve, entre outros motivos, sobretudo às tensas relações que a companhia mantém, sobretudo, com os funcionários e grupos indígenas.

Por trás do que se “ouve falar” e das polêmicas que sempre envolvem a companhia há um setor produtivo, cuja atuação cotidiana obedece a critérios definidos historicamente, a ser analisado em seus determinantes econômicos e técnicos, seus discursos e suas estratégias, uma vez que o cenário urbano de Parauapebas resulta das disputas de sentido travadas pelos e nos discursos dos atores envolvidos nos processos engendrados pela relação entre a Vale e os stakeholders, mais especificamente no que tange os projetos de sustentabilidade, no qual há uma luta incessante pela hegemonia dos espaços de poder.

(...)

Pretende-se nesta pesquisa, propositadamente, enfatizar as “falas” dos atores que, em suas convergências e conflitos, desconstroem a idéia de um mercado como uma esfera “uníssona” ou transcendente. Ao mesmo tempo em que também visa a expor – sempre no sentido da crítica construtiva – as contradições e disputas de poder que acontecem na própria companhia pois dentro de uma empresa da dimensão da Vale, que lida com montantes expressivos de volume financeiro e recursos humanos, as divergências e disputas são bem maiores do que se tem notícia seja via grande imprensa, seja via trabalhos acadêmicos.

E como este trabalho é tributário da área da comunicação, não trataremos da relação da Vale com a população ou o Estado em Parauapebas, mas especificamente entre a companhia e o que ela nomeia de stakeholders (públicos envolvidos, partes interessadas), que são grupos restritos representativos dos grupos maiores nomeados de Acionistas, Colaboradores, Comunidades Indígenas, Comunidades do entorno, Poder Público, Mídia, Fornecedores. E dentre todos esses, focaremos mais especificamente os stakeholders abrangidos pelos seguinte projetos de sustentabilidade: Vale Alfabetizar, Escola de futebol, Escola que Vale e Estação de Conhecimento APA do Igarapé Gelado.

Retomando a questão inicial, caberia adaptá-la para: o que permeia essa abertura da empresa para o diálogo como os stakeholders? Parte-se então do discurso da companhia, impresso principalmente no seu relatório de sustentabilidade 2007 para o trabalho empírico de visitar e acompanhar o momento mesmo de atuação desses projetos para mapear a opinião de todos nele envolvidos e perceber como se desenvolve na prática as ações ditas “sustentáveis” da Vale em Paruapebas.

Entender esse espaço que a companhia abre para os seus stakeholders como portais de entrada para o implícito, para o que estrutura e produz essa mediação, a começar pelas relações, às vezes sutis, às vezes tensas, existentes entre os diferentes representante da empresa, do poder público e das comunidades é um de nossos mais caros objetivos.

A paisagem urbana de Parauapebas não é produto simplesmente de elaborações ou tramas maquiavélicas de capitalistas insensíveis que visam apenas ao lucro e à exploração da população. Tipos de capitalismo e de capitalistas e estratégias de investimento são fatores ligados à formação e à transformação das redes urbanas e dos espaços econômicos da cidade. Por trás delas – pelo menos nas economias de tipo liberal – encontram-se os agentes reais, elites mais ou menos enraizadas, detentoras do capital, do conhecimento ou capazes de inovações técnicas. É na estrutura social das cidades, mais do que na soma das suas funções, que se deveria procurar a base da organização territorial, através das mudanças históricas, desde a acumulação de renda ligada à posse da terra até à constituição dos territórios de sistemas simbólicos, como é o caso das intervenções da Vale.

Os processos que o produzem geram um espaço controverso de interesses dos stakeholders, ou seja, de todos os implicados no processo. Uma rede infinita de conflitos convive diariamente com a pressão pela sobrevivência, dada a imprevisibilidade dos fatores que norteiam a atividade. É bom lembrar que o lançamento de um projeto de sustentabilidade é sempre uma incógnita, sujeita a sucessos e fracassos. Ao mesmo tempo, é preciso pensar que o sujeito envolvido nesses projetos sociais da empresa não é mais um mero número estatístico de uma massa inqualificável e amorfa, mas um sujeito com capacidade crítica para dar outros significados aos estímulos simbólicos a ele proposto, a partir de seu uso e de sua experiência cotidiana.

domingo, 23 de agosto de 2009

Entre o Ideológico e o Político - Parte II

Dando sequência ao pensamento do primeiro post sobre as diferenças entre o ídeológico e o político, voltemos o foco para a ideologia que também persiste na célula central do capitalismo, que são as empresas. Quando Marx cunhou seu pensamento sobre ideologia, à época ele se referia justamente ao conservadorismo das burguesias industriais, a direita liberal que via no mercado o supremo regulador da economia. Hoje, é corrente no discurso empresarial uma certa repulsa a tudo o que eles consideram "ideológico", termo associado aos movimentos ditos de esquerda, sobretudo os movimentos sociais com posturas mais ativistas como o MST - Movimento dos Sem Terra. Ora, ao deslocar o "ideológico" apenas para organizações que são contrárias em alguma medida a forma de atuação das empresas, estas incorporam o discurso da eficiência técnica como parâmetro para suas decisões. Mas isso apenas acontece no nível discursivo, pois o que as empresas e os defensores da economia de mercado (políticos, ONGs, líderes de opinião, religiosos etc.) dissimulam é que, no fundo, a governança e o poder decisório está sempre à mercê dos interesses e objetivos nem sempre tão transparentes das corporações ou dos setores que atuam globalmente. Ou seja, essa crença na técnica com sua feição imparcial, detentora do conhecimento puro, capaz de distinguir cientificamente o que é melhor para um coletivo, também é uma ideologia pois brota da crença de que a administração ou a gestão dos desafios humanos (muitos, no plural) devem ficar a cargo de especialistas (poucos), que são investidos de legitimidade pelo discurso competente da ciência. para criar modelos técnicos que devem ser seguidos disciplinarmente por todos. Mas o mercado é um mar bem mais revolto do que outras dimensões sociais. Aqui há a concorrência, há uma corrida constante pela atualização tecnológica e há o consumidor: peça surpresa e cada vez mais importante nesse processo. Mesmo em setores cartelizados, onde o consumidor não adquiriu ainda os direitos mínimos necessários para uma relação comercial justa (como é o caso do setor de telefonia celular), o consumidor exige investimentos e pode provocar muitas dores de cabeça as empresas. A exigência por resultdos e produtividade torna o mercado um espaço onde a eficiência é e será sempre cobrada, agora ainda mais com a exigência da sustentabilidade das atividades. Hoje vista como um processo técnico na maioria das empresas, trata-se de um desafio próximo perceber se a sustentabilidade terá um viés mais ideológico ou político nas corporações. Se ela for encarcerada em preceitos técnicos, reduzida a um discurso fechado de propaganda, e cujo não cumprimento pode culpabilizar empregados, ela tenderá ao ideológico. Mas se as empresas forem capazes de realmente abrir o espaço para a discussão, onde argumentos claros visem a persuasão de todos os envolvidos no processo, os chamados stakholders, entendido como espaço de diálogo/conflito, espaço vivo de experiências, e a empresa tiver a ombridade de escutar e incorporar as críticas e sugestões em suas atividades, aí sim teremos uma aborgdagem política da sustentabilidade. Por enquanto, o que temos é ainda um processo embrionário nas empresas de de aprendizado. São modelos de gestão, hierarquias, hábitos e modos cristalizados de pensamento empresarial que estão sendo sacudidos por essa onda sustentável, hoje presente fortemente nas grandes empresas. E é delas que vêm exemplos significativos, pois como há ONGs e ONGs, Movimentos Sociais e Movimentos Sociais, há empresas e empresas, e a necessidade do bom exemplo, como Natura, Banco Real e Burti no caso do mercado brasileiro. O próprio Wal Mart, corporação global, sempre demonizado como a empresa mais representtvia da exploração capitalista, está tentando imprimir mudanças profundas em seus dogmas de gestão, no sentido de se tornar uma empresa "verde". E aqui é uma outra armadilha da sustentabilidade, a da balança que pesa apenas o ambiental, em nada ou pouco se preocupando com o social, muitas vezes confundindo-o com filantropia. E na Amazônia esse quadro fca ainda mais complexo, porque há mais riqueza, iteresses e visibilidade em jogo. De qualquer forma, é fato que a crença na hegemonia da técnica, que se caracteriza pelos procedimentos homogêneos de gestão (um exemplo disso é a área de Recrusos Humanos ou Gestão de Pessoas) é extremamente perigoso porque também é ideológico e não permite o pluralimso, o questionamento, a idéia contrária, em nome da imperiosa e lucrativa uniformização dos processos produtivos.

sábado, 15 de agosto de 2009

Entre o Ideológico e o Político

Que a configuração de forças que compõem o poder na Amazõnia é desigual, isso é fato. E que essa assimeria gera injustiças enormes e (des)conhecidas, também. As vias tradicionais de resistência às diretrizes extremamente excludentes do sistema capitalista de produção, legitimado ou não, é composta por todos os movimentos de resistência organizados sob forma de ONGs, movimentos, cooperativas, enfim todos que defendem causas indígenas, feministas, de saúde, segurança, educação e meio ambiente, geralmente com apoio das instituições religiosas, educativas, partidárias etc. Embora imenso em diversidade de causas, o que há em comum entre todos esses movimentos é a ideologia anti-capitalista, ou pensamento de esquerda, eufemismo nomenclatural. No jogo de forças que hoje é jogado na Amazônia, é possivel dizer que os movimentos que partilham de tal ideologia tem presença e atuação ascendentes também pelo apoio que têm recebido do poder judiciário, sobretudo do Ministério Público.

Percebo nesse caminho, algumas semelhanças com a ascensão do PT ao Poder. Partido dominado inicialmente pela ideologia socialista mas que, ao chegar ao poder, teve boa parte de seu quadro seduzido pelo pragmatismo político, o que têm gerado dissidências e muitas críticas. Atualmente, surgem movimentos ainda mais à esquerda (portanto, ainda mais anti-capitalistas) do que eram os ideários do PT pré-ascendência à presidência. E essa radicalização tem gerado conflitos violentos e que tendem a se agravar na região. Reconheço a legitimidade e a necessidade desses movimentos que se expõem, lutam e cobram mudanças, mas como a perspectiva reivindicatória é sempre de curto prazo, me pergunto onde tudo isso pode dar. Que é preciso resistir, sem dúvida. Que não é possivel mais repetir a história de irmã Doroty, sem dúvida. Que precisamos lutar pelos direitos humanos, é óbvio. Mas a posição que aniquila o outro, que o reduz ao estereótipo do inimigo, parte do princípio que o lado daqui tem toda razão em seus questionamentos e reivindicações e o lado de lá não tem nada, só más intenções. E essa postura é ideológica, entendida como um conjunto impermeável de idéias que se cristalizam nos discursos de um determinado grupo social, que mesmo na luta em prol da causa mais justa, inviabiliza a realização dele, justamente porque ideal, aqui, no mundo real dos homens e das instituições, com suas qualidades e defeitos. Estas, com seus históricos mecanismos de corrupção, cooptam o mais bem intencionado dos gestores públicos, que se vêem entre a ineficácia viciada da máquina governamental, e a pressão de grupos oposicionistas. E entre atender às demandas públicas, e encher o próprio bolso, o sujeito olha tudo o que ele acreditava se diluir em debates inóspitos e pensa que é melhor salvar o dele. E penso também que algumas pessoas que tanto lutam pelas causas ditas "sociais", quando assumem o poder, são os mais refratários à crítica e deixam escapar uma veia autoritária preocupante (como é o caso de alguns gestores do atual governo Ana Júlia).

Defendemos a política como o espaço onde todas as questões devem ser debatidas e deliberadas democraticamente e não "administradas" por instâncias superiores. Ou seja, para se construir uma real esfera pública, onde a política possa ser verdadeiramente exercitada, será necessário mudar a percepção dos grupos que são tão importantes porque defendem os direitos mais legitimos. E aqui abro uma fenda nesses grupos, pois entendo que os índios, ribeirinhos e populações vulneráveis lutam por sua sobrevivência, pois estão diretamente ameaçados pelos processos agressivos do capitalismo, mas e os outros: intelectuais, ativistas, advogados, profissionais liberais, enfim, os mediadores que emprestam sua voz a causa alheia, que fazem? É legitimo o que fazem? Em parte. Quando estão ali para defender os mais vulneráveis, dando maior legitimidade aos movimentos pois são eles que ampliam o eco da causa, ok, mas quando o querem abrigá-la sob um guarda-chuva ideológico qualquer, aí está o perigo. O perigo que abole a pluralidade, que elimina o outro, que não percebe que, de alguma forma, o processo não é meramente dialético, mas complexo, pois os problemas são sistêmicos e suas peças são interdependentes, hoje está muito presente na Amazônia. Então, simplesmente bradar Fora Capitalismo ou Fora Vale pode parecer um grito oco de jovens manifestantes estudantis, mas esse discurso é sedutor porque mobiliza, cria o inimigo objetivo, gerando ódio e atos violentos. E como todo discurso precisa de súditos, é mais sedutor dizer às pessoas que elas devem adotar esta ou aquela causa, do que convocar todos os envolvidos no problema para pensar porque ele surgiu e como resolvê-lo. Entendendo que não haverá soluções definititvas mas sempre rearranjos em função das decisões negociadas pelos grupos. O maior perigo do ideológico é que, ao ignorar o real, reduzindo-o ao horizonte do possivel, ele contribui tanto ou mais do que as próprias forças capitalistas para a grave situação da Amazônia atual. Imaginemos, hipoteticamente, uma mesa onde estivessem sentados todos juntos: indígenas, Vale, governos, trabalhadores, feministas, mídia, ribeirinhos, movimentos sociais, ONGs e sociedade civil; desse encontro poderia surgir uma potência tão mais revolucionária do que qualquer chavão marxista porque ainda não inventaram nada melhor para fazer emergir a verdade do que um homem olhar no olho do outro. Um fórum em que todos estivessem em pé de igualdade, ao expor suas demandas e limites, talvez aí sim pudesse se construir um fio de esperança para a Amazônia.

Sei que este texto pode parecer pró-capitalismo mas, acreditem, não é. Pois desse outro lado, há também uma ideologia de moeda única: o lucro. O lucro individual, financeiro mas sobretudo o do poder e ascendência sobre as instâncias econômicas e políticas que orientam decisões de impacto global. São mecanismos de mobilização bem mais sofisticados do que os dos movimentos citados acima. Daí a importância de documentários com os da Enron e o The Corporation, que nos ajudam a desvendá-los. Mas essa crítica caberá em outro post.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

O trem da Vale

Essa apresentação nos mostra o retrato do que é uma viagem na classe econômica no trem da Vale, que faz a linha entre São Luis - MA e Parauapebas-PA, chamando a nossa atenção para as contradições de postura da companhia.

Assista ao video clicando aqui e comente




quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Visitas, viagens e experiênias de Campo: relato e alguma cronologia

Acho que minha pesquisa de campo se iniciou na própria mudança para Belém em 5 de janeiro. Depois de mais de dez anos longe, voltar para a sua terra é sempre um conhecido estranhamento. Reviver e ressentir o clima, os afetos, os lugares, a memória presentificada já é uma experiência e tanto, e só não me perdi nesse labirinto porque a pesquisa me deu um fio de Ariadne.

Como estava com uma boa internet e a Universidade estava fechada por conta dos preparativos para o Forum Social Mundial, iniciei em janeiro o trajeto caseiramente. Busquei via net e via leituras, tudo o que poderia levantar sobre o histórico da Vale - corte diacrônico - e também tudo o que era publicado na grande mídia sobre a cia. - corte sincrônico.

O Forum Social Mundial foi a experiência incrível que já descrevi aqui. O tom anticapitalista dominante do evento me fez olhar o reverso do foco desta pesquisa, e foi muito enriquecedor acompanhar todos os discursos, manifestações e mobilizações contra a Vale, além de identificar as opiniões dos representantes do Poder Público, dos Movimentos Sociais (em especial do Justiça nos Trilhos) e das ONGs em relação a Cia.

Em janeiro e fevereiro a Vale lançou uma grande campanha nacional de publicidade enfatizando seu compromisso com a sustentabilidade, e eu salvei tudo para inserir na pesquisa. Esperava ir em março a Paruapebas mas o excesso de chuvas que se estendeu até junho me fez adiar meus planos.

Em abril, por conta de estar literalmente hibernando na biblioteca do NAEA, decidi criar este blog, de forma que pudesse documentar e compartilhar toda a trajetória da pesquisa.

Em maio, fui a São Paulo participar do II Forum de Comunicação e Sustentabilidade e ao Rio, participar do Intercom Sudeste, importantes congressos da área.

Justifico não ter procurado a Vale nesse período porque tinha decidido primeiro ir a Parauapebas e Carajás, fazer um reconhecimento de campo e escutar as pessoas ainda sem ter ouvido a companhia. E foi o que fiz em fins de junho, ao viajar de carro para a região e ter ali permanecido uma semana. A viagem foi importante para reconhecer o campo, mapear os envolvidos com os projetos de sustentabilidade da Vale, conversar informalmente com moradores e pessoas ligadas direta e indiretamente à companhia, além de me localizar geograficamente em relação ao território a ser estudado.

Entre as visitas, destaco as realizadas à serra e ao núcleo urbano, a comunidade de Palmares II (Assentamento do MST), à Estação ferroviária,a casa do Professor, a SEMED e ao Complexo Esportivo Waldir Sorriso em Parauapebas, além da viagem às cidades de Marabá e Canaã dos Carajás.

Agora estão previstas mais duas viagens, a depender das autorizações obtidas junto a Vale. A próxima deve ser agora em agosto.

Cronologia das Entrevistas

As entrevistas talvez sejam a parte mais substanciosa da pesquisa de campo e, por isso, decidi apresentar uma cronologia delas, identificando os entrevistados e onde foram realizadas.

6/2 – Pedro Galvão: publicitário e proprietário da Galvão Propaganda que atende a conta de publicidade da Vale. Na sede da agência, em Belém-PA;

10/2 – Cristiano Moraes da Silva, ex-terceirizado da Vale, que morou por mais de quatro anos em Parauapebas, em sua casa, em Belém-PA;

19/3 – Angela Naiff – Diretora de Mídia da Galvão Propaganda, na sede da agência em Belém-PA;

26/3 – Lúcio Flávio Pinto: reconhecido jornalista paraense, profundo conhecedor das questões amazônicas, na sua casa em Belém-PA;

(Entre abril e maio houve um hiato nas entrevistas por conta das viagens para participar de eventos em São Paulo e Rio de Janeiro e sobretudo porque as primeiras informações obtidas nas entrevistas me fizeram aprofundar a pesquisa por dados e informações na biblioteca do NAEA)

7/6 - Olinta Cardoso: ex-diretora geral de comunicação da Vale no Brasil e atual consultora da Vale para Sustentabilidade. Encontro e troca de informações básicas para futura entrevista, no Anhembi em SP.

19/6 – André Reis: coordenador do IBRAM – Instituto Brasileiro de Mineração no Pará, por telefone.


(Viagem a Parauapebas)
26/6 – Raimundo Guimarães: segurança da estação ferroviária de Parauapebas, terceirizado da empresa Sacramenta, na própria estação;

29/6 – Raimundo Nonato Mendes: vigilante da Escola Municipal de Palmares II – Crescendo na prática e militante do MST – Movimento Sem Terra, na Escola;

6/7 – Kaio Soares: engenheiro ambiental e ex-terceirizado da Vale em Parauapebas, por email.

30/ 6- Simone Vilhena: coordenadora pela Secretaria Municipal de Educação de Parauapebas (SEMED) do Vale Alfabetizar, juntamente com as colaboradoras Maria Siloé e Kátia Soraya, na sede da SEMED, na sede da SEMED em Parauapebas;

30/6 – Sandra Teixeira: coordenadora pela Secretaria Municipal de Educação de Parauapebas (SEMED) do Escola que Vale, na sede da SEMED em Paruapebas-PA;

1/7 – Maurício Sampaio Junior: professor de educação física e coordenador técnico do Projeto Escolhinha do Futuro, apoiado pelo FUNDICAP (Fundo de defesa da infância e adolescência) que é mantido pela Vale, na sede do projeto coplexo esportivo Waldir Sorriso em Paruapebas-PA;

6/7 – Jônatas dos Santos Andrade: juiz da 1ª. Vara do Trabalho de Parauapebas, na sede da AMATRA, em Belém-PA;

6/7 – José Maria Quadros de Alencar: desembargador da Justiça do Trabalho, 8ª região, no gabinete dele em Belém-PA;

4/8 – Karla Melo: diretora de Comunicação da Vale no Pará, na sede da Vale em Belém-PA.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

As instituições não podem ser maiores do que as pessoas

Há muito tempo venho tendo experiências nada positivas no embate com algumas instituições. E tudo porque ouso questionar algumas frases que me são ditas assim, como se nada fossem: "a culpa é do sistema", "essas são as regras" ou "não é possivel fazer nada porque o sistema não deixa". Ou seja, esse sr. onipresente, o "sistema" é uma construção humana de burocratas e técnicos em informática que são capazes de crueldades aberrantes porque simplesmente "seguem as regras" e esmagam os homens. Estou desde o dia 15 de junho às voltas com o sistema do CNPq, que insistia em simplesmente não abrir o formulário para que eu enviasse o relatório da pesquisa. Depois de 45 dias vivendo um processo kafkiano com a burocracia estatal de Brasilia, entre emails e telefonemas, hoje, finalmente a porta do paraiso abriu e pude vislumbrar um resto de luz no fim do tunel. Resto porque a atendente, embora sempre solícita, foi capaz de me dizer q aquele formulário sempre esteve lá - desde quando??? Por que ninguém me avisou??? sou obrigada a conhecer toda a arquitetura do site do CNPq??? - e eu devia me dar por satisfeita porque justamente hoje, último dia para enviar o fromulário, o sistema se dignou a abrir. Minha alegria durou pouco: logo ao entrar, percebi que os dados de minha bolsa estavam errados, com dados desatualizados e, sobre os quais, eu já havia alertado o CNPq havia mais de 5 meses. Ou seja, se pecado cometi, foi porque alterei as datas de início e término da bolsa. Mas será que alguém no CNPq quer saber porque fiz isso??? Eles querem saber se tenho vínculo empregatício com uma das maiores instituições educacionais deste país, que é a PUC-SP, e que portanto, tenho que obedecer aos trâmites de liberação de licença dela, antes de qualquer decisão psssoal? Pois é, este motivo que ninguém quer saber, acabou gerando niveis de perda de tempo, nervosismo, apreensão e ansiedade que não fizeram nada bem à saúde de alguém que, se cometeu outro pecado, foi o de querer pesquisar em um rincão deste país, onde o poder público chega precariamente. Ali, há muitas formas de pobreza e de injustiça, mas agora, sendo vítima da perversidade sem autoria ou cara das instituições, me pergunto se as populações mais carentes deste país não preferem mesmo a informalidade como forma de escapar a esse controle que subjuga o humano ao nivelar todos por baixo. O apelo anarquista me seduz nesse momento, mas continuo acreditatndo que também não é o caso. A diferença, dentro e fora das instituições, é e será sempre a mesma: o homem. As regras e poderes engendrados pelas instituições são necessários para a organização da sociedade, mas a forma como eles são exercidos é que faz a diferença. Pois se alguém ali no CNPq tivesse tido um mínimo de boa vontde, eu não teria mais um caso a relatar aqui.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Lucro da Vale despenca e a cobertura da mídia é tímida

O anúncio da queda do lucro da Vale no 2o trimestre de 2009 teve um destaque desigual entre os principais veículos desse país. Enquanto Globo.com e Estadão.com deram notas simples e logo as tiraram do destaque, em Belém apenas o portal ORM preproduziu a nota da Globo e o Diário do Pará nada deu. Incrível como uma nota denagtiva da companhia desapareça dos destaques em periodo de tempo tão curto. Apenas a Folha de São Paulo deu em chamada de capa do jornal impresso a notícia (edição de hoje, 30/7), que continua sendo destaque no site da Folha on line, mesmo passadas 24 horas do anúncio, o que na internet é quase uma eternidade. Então, fiquemos com a nota da Folha.

"Crise e real forte derrubam lucro da Vale".

Este resultado vem pior que a expectativa do mercado, pois o aumento no volume de vendas é anulado pela queda no preço do minério de ferro após crise.

Afetado pela redução do preço do minério de ferro e pelo câmbio, o lucro da Vale ficou em R$ 1,466 bilhão no segundo trimestre de 2009, queda de 81,5% na comparação com igual período de 2008 (R$ 7,9 bilhões), quando a economia global estava ainda aquecida. Foi o pior desempenho para tal período do ano desde 2003. Em relação ao lucro do primeiro trimestre (R$ 3,151 bilhões) deste ano, que já havia sido fraco por conta da crise, o lucro caiu 53,5%. O resultado surpreendeu negativamente os analistas, que esperavam lucro entre R$ 3,5 bilhões e R$ 4 bilhões. As ações da Vale ampliaram suas perdas após o anúncio do balanço da empresa. No pregão normal, que fechou antes de o resultado ser conhecido, a ação PNA da Vale caiu 1,69%. Já no "after market" - operações realizadas após o encerramento normal do pregão -, as ações alcançaram baixa de 3,54%. Segundo a Vale, dois fatores determinaram o pior desempenho: a valorização do real e a queda dos preços do minério de ferro. Juntos, reduziram o faturamento em R$ 3,6 bilhões. De abril a junho, a receita da companhia caiu 41,7% na comparação com o mesmo período de 2008 e somou R$ 11 bilhões. A redução de 28,2% no preço minério de ferro, principal produto da Vale, anulou o crescimento do volume de vendas do produto - de 3,6%. Apesar de ainda não ter fechado contratos com grandes clientes, como siderúrgicas da China, a mineradora informou que contabilizou todo o efeito negativo da diminuição dos preços no segundo trimestre. Como a Vale exporta quase 85% do que produz, a maior parte do seu faturamento é em dólar. Ao converter essa receita em reais, ela encolhe dada a valorização cambial - o real se valorizou em 16% ante o dólar no segundo trimestre. A variação cambial também obrigou a Vale a pagar mais Imposto de Renda. Só a despesa com o tributo cresceu R$ 2,3 bilhões. Desse modo, o câmbio e os preços mais baixos impediram que a Vale se beneficiasse da ainda tímida reação do mercado global, que consumiu mais ferro no segundo trimestre. A recuperação foi liderada pela China - cujas importações de minério de ferro cresceram 29% no primeiro semestre deste ano. No Brasil, as vendas também cresceram: 23% no segundo trimestre. Já os aumentos do cobre (30%) e do níquel (50%) no segundo trimestre geraram impacto positivo de R$ 431 milhões no faturamento.

Dívida
Apesar da expectativa de que a valorização do real reduzisse as despesas com dívidas, a Vale viu seu endividamento crescer: a dívida líquida subiu de R$ 6,2 bilhões no segundo trimestre de 2009 para R$ 8,3 bilhões no segundo trimestre deste ano. A empresa não informou os motivos no balanço. (PEDRO SOARES)

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Por onde começar ?

Esse mês de julho tem sido um hiato na pesquisa. Depois da viagem a campo e das entrevistas, a burocracia e as demandas paralelas me tiraram da rotina da leitura e escrita. Agora sinto a necessidade de escrever. Mas por onde começar? Por mais que já tenha começado inúmeras vezes, o fato é que o pensamento já tem dificuldade de um fôlego maior. Consigo pensar em drops, quase cápsulas, talvez por vício profissional (publicitário pensa em 30 segundos, pelo menos até a minha geração), mas dificilmente em 30 páginas. Não sei ao certo como consegui produzir as mais de 200 da tese de doutorado e os artigos que vieram depois. Acho que há um espírito da escritura, que sempre vem e nos arrebata em algum momento, e aí a coisa deslancha.

Mas e até lá? por onde começar? Quando não há rumo, não há bússola, não há espíritos. Há vc e a tela em branco, e vc é um sujeito oprimido por tantas idéias já pensadas, mas parece que nenhuma passa no furo mínimo da agulha do cérebro para chegar na ponta dos dedos e se materializar em letras, palavras, frases e conhecimento. Que devem ter nexo, profundidade, rigor, precisão, isso tudo ou correm o risco do não terem o selo "científico". Mart'nália canta agora no rádio que é "inútil se tentar fugir da longa estrada", e como fiz semiótica, leio os sinais.

Começo então com um cara que tem me inspirado muito ultimamente, o Celso Furtado e um trecho que tinha separado para ser uma provável epígrafe. Celso diz na página 15 do seu genial o mito do desenvolvimento econômico: "os mitos tem exercido inegável influência sobre a mente dos homens que se empenham em compreender a realidade social. ... O mito congrega um conjunto de hipóteses que não pode ser testado. ... Assim os mitos operam como faróis que iluminam o campo de percepção do cientista social". Faróis, quais faróis? Me vem que prefiro Pentecostes à Torre de Babel. À parte o messianismo, a moral da história das labaredas de fogo que falam línguas desconhecidas e, contudo, fazem todos se entender e entrar na mesma sintonia me seduz. Esse mito me interessa menos como uma estratégia de evangelização, e mais pelo ato em si, pelas línguas em fogo que podem até queimar e virar cinza, mas antes, podem, pela palavra, se expressar, discutir e gestar um novo tempo para a Amazônia. (Foto de lu_bezerra, "Pentecostes")

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Relatório Técnico

A conquista de uma bolsa de estudos dos organismos de fomento sempre implica a produção de um relatório técnico final, com os resultados da pesquisa. Justo, justíssimo. Porém, vc ter que fazer um relátório quando sua pesquisa ainda não acabou, e vc está pleiteando uma prorrogação é mais uma daquelas situações kafkianas da burocracia. Depois de falar com várias pessoas, chega-se a brilhante conclusão que a "culpa é do sistema". Ou seja, essa máxima que parece uma praga do Egito a se espalhar em todas as relações do cidadão com as instituições ganha ares de naturalidade, e faz com que muitos aceitem tal justificativa non sense pacificamente. Confesso minha irritação não apenas pelo meu caso particular, mas sobretudo porque essa bestialidade está se tornando uma regra geral a qual, todos nós, a quem o sistema deveria servir, devemos nos submeter a seus caprichos e incompetências. A minha pergunta é: quem está por trás do sistema???? Essas pessoas têm que pensar nas brechas, pq nada que é humano, é linear. E olha que no meu caso nem é nada assim tão complexo: tudo o que preciso é que o sistema abra o formulário para eu enviar meu relatório.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Protestos Pessoais_ Em defesa do Lúcio Flavio e da Amazônia

Esta semana estive fora do ar por conta da viagem a SP, onde vim administrar a obra e tb buscar algumas referências da pesquisa. Nesse traslado, estou ainda, mais de um mês depois, ainda às voltas com suporte do CNPq q não consegue resolver o problema do formulário de prestação de contas. Mas esse imbróglio institucional não é nada se comparado à injustiça da sentença que condenou o jornalista Lúcio Flavio Pinto a indenizar os irmãos Maiorana em 30 mil reais. Tal decisão judicial já deu origem a uma série de protestos virtuais, com os quais esse blog se associa. Está sendo organizado um abaixo-assinado que em menos de 10 dias já reune quase 400 assinaturas, e há tb o blog http://solidariedadelucioflaviopinto.blogspot.com/, onde as pessoas podem postar comentários ou colaborar com o Jornal Pessoal. Estou nessa não apenas pelo Lúcio, a quem admiro e respeito, mas sobretudo pela Amazônia. Acho que a voz do Lúcio oxigena a discussão e ajuda a pensar caminhos mais justos e adequados para a região.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

quarta-feira, 8 de julho de 2009

O que muda com a Pesquisa de Campo ? (Decifra-me ou eu mesma me devoro)

Acho q todo pesquisador já passou por isso. Um belo dia ele acorda com uma idéia e decide fazer um projeto de pesquisa. É provável que inconscientemente ele tenha maturado essa idéia por muito tempo. Define o tema e parte para a escritura dos objetivos, metodologias, justificativas, referências etc. Arma tudo direitinho, põe no papel, encontra um orientador que tope, acha um abrigo institucional (diga-se um programa de pós-graduação) e, quando tem sorte, consegue uma bolsa. Que felicidade!!! Sair do masmorra do trabalho controlado e poder pensar - além de ser pago por isso. Mas a alegria não dura muito, pois a partir do dia que o sujeito se atrela, junto com a alegria, vem duas assombrações de meter medo no mais cético dos ateus: o prazo e as exigências. E se o projeto prevê pesquisa de campo (no sentido mais empírico que esse termo possa ter) e ainda for da área de Humanas, aí é que a tarefa ganha muito em emoção. Pelo menos na área da comunicação, é utópico (pra não dizer balalea) essa coisa da observação isenta e distanciada. Mais do que cabeça, acho que o pesquisador precisa ter coração. Não é fácil sair do conforto (inclusive térmico) da biblioteca, para enfrentar estradas péssimas, temperaturas de mais de 40 graus, poeira, falta de conforto e insegurança. Por isso acho que o campo é o maior dos desafios. Ali, tudo o que se escreveu no papel, perde o sentido. E aquela idéia que achávamos maravilhosa quando acordamos naquele bendito dia, de repente se torna inócua. A realidade é e sempre será maior do que qualquer pesquisa - ainda bem. E no entanto, por mais sofrida que seja, é dela que vem toda a adrenalina e o risco maior é que nós, ao voltarmos para a nossa confortável biblioteca, não sejamos capazes de traduzir, minimamente que seja, a riqueza do visto e vivido, seja na folha de papel, seja num produto final multimidiático. Depois de sentir o calor e a poeira nas entranhas, olhar nos olhos das pessoas, chegar aos confins da Amazônia, de ver o monstro que é o Brasil real de frente, me pergunto se serei capaz (?) e se esta pesquisa será concluída com a dignidade necessária (?). A Amazônia, me disse um entrevistado, é uma esfinge às avessas, que parece desafiar o pesquisador ao dizer-lhe, entre irônica e sedutora - Decifra-me ou Devoro-me.